Um Conto ao Luar


UM CONTO AO LUAR...
Contos ao Luar

Detetado que foi o gosto de alguns dos nossos poetas em escrever contos, pareceu-nos oportuno criar um espaço em que os mesmos possam mostrar os seus talentos.
Assim, convidamos os nossos poetas a participar com publicações de contos, a integrar nas três publicações diárias já concedidas a cada membro.
Os contos deverão enquadrar-se numa folha A4 com tamanho de fonte 12 e fonte Times New Roman, a fim de não serem demasiado longos.
Os contos selecionados vão para a página do Blog.
po


O Grito

A cortina de renda balançava com o vento que irrompia na noite.
Um vento que surgiu de mansinho, mas que rápidamente se encheu de fúria desenfreada, entrando quarto adentro, estilhaçando a vidraça.
 
Uma tempestade súbita que fez estremecer o coração de Elisa.
Vento, chuvas, trovões...
e o mar que caía do céu, juntou-se ao vento voluntarioso.
Grandes ventos assobiavam, chuvas diluvianas, rajadas, faíscas.
Um pássaro de penas verdes piava com júbilo, parecendo indiferente ao cenário apocaliptico.
E uma brisa salgada acordou Elisa.
Estremunhada, esfregou os olhos de amêndoa e um sorriso formou-se-lhe nos lábios carnudos.
Aquela ilha sempre lhe parecera mitica, quase irreal . Uma floresta luxuriante, onde diversas formas de vida coabitavam em paz e harmonia.
Os animais de diversas especies eram um regalo para os olhos, as flores e vegetação: até pinheiros sob os quais repousava.
Sabia que esta não era uma ilha deserta. Ocasionalmente ouvia vozes e conversas fragmentadas ao longe. Mas nunca vira alguém.
Um coala fazia-lhe companhia, enquanto desbravava as silvas.
Apanhava bagas, frutos e plantas. E a verdade é que se sentia forte e resistente com a alimentação existente.
Desde que desembocara na ilha nunca adoeceu; e sentia a pele macia e suave. Lembrava-lhe lençóis de cetim. 
Questionava-se sobre lençois de cetim. Em que parte da ilha os abandonara? ou será que teria sido um sonho?, mas...parecia-lhe tão real, pálpável quase.
Sacudiu a cabeça.
Sacudiu as estranhas e vagas lembranças.
Avistou ao longe um barco no horizonte.
Um barco de passagem como tantos outros, pensou.
E deitou-se ao lado do Coala, contemplando um céu matizado de carmim.
E suspirava encantada. Não poderia estar mais feliz. Não existiria de certo outro lugar que se vestisse assim.
Era feliz. Mas...sentia-se intrigada. Se ouvia pessoas na ilha, onde estariam? será que de si se escondiam? mas, porque razão?
se era um ser delicado e inocente.
No seu divagar, uma onda de sono a tomou, mas num instante recuperou.
Ouviu um leve restolhar de passos.
Abriu os olhos, pestanejando profusamente.
De pé, diante de si viu um homem lindo. 
Alto, esguio e de cabelos longos e pretos.
Levantou-se num salto e sorriu.
Ele devolveu-lhe o sorriso.
Um feitiço caíu sobre os dois.
Olhavam-se mutuamente, deliciando-se de prazer, mas nenhum ousava falar.
Apenas contemplação e reconhecimento.
Ele pegou-lhe na mão.
Caminharam pela ilha ouvindo os poemas da natureza.
O mar rugia baixinho.
O beijo que deram tinha o sabor de amoras silvestres.
O seu amor...era ele que cantava as lindas serenatas que ecoavam na noite.
Viram a lua quando a noite chegou. A lua! E ela prometeu-lhe a lua.
E um fio dourado escorria do céu. 
O coração de Elisa sabia.
O seu amado sempre estivera velando por ela. E agora ...agora...a lua...a lua seria seu destino.
UM GRITO.
Dona Cristina na rua com sua voz estridente chamava a vizinha para a habitual caminhada diária.
Elisa deslizou nos lençois de cetim.
Levantou-se e abriu a cortina de renda.
O sol resplandecia no céu.
Meu Deus, onde os sonhos nos podem levar, suspirou.

Emilia Maria


O Segredo

Naquela manhã de Julho Natália preparava-se para um dia que se adivinhava difícil e cheio de conflitos.
Tomara um bom duche matinal e tentava munir-se de força e coragem para o dia. 
No espelho embaciado via seu rosto jovem e bonito. E a aliança que usava há meses era motivo de orgulho e uma fonte de problemas a vencer.
Vestiu um vestido azul celeste. Quem sabe daria sorte. Azul da cor do céu. 
Iria almoçar na casa dos pais. Filha única sempre fora mimada e tratada com todos os cuidados e dedicação. 
Amava os progenitores. Amava-os demais. 
Mas como faria para os poupar a uma dor atroz que lhe iria causar? como os poupar ao sofrimento? Já pensara nas múltiplas formas de o dizer; de os colocar ao corrente da situação com um minimo de choque.
Os pais sempre foram o seu amor, o seu porto de abrigo. No entanto sabia que agora não teria a aceitação deles; não teria a sua benção.
Eram maravilhosos. Mas católicos assumidos e conservadores zelosos que não abdicavam de suas crenças. Sabia que seriam implacáveis, mas tinha de ser.
Tinha direito a viver a vida e não a esconder-se como se fosse uma criminosa.
O coração disparava-lhe no peito.
Conseguia ouvir a voz de censura da mãe, os gritos de revolta e vergonha.
Mas estava determinada.
Amava Luiza e com ela se comprometera. O anel era prova desse amor. Um amor real e bonito.
Tantas vezes entrara em conflito consigo própria...tantas vezes se revoltara. E tentara contrariar sua tendencia.
Que culpa tinha em ter nascido assim?
porque não teria direito a viver como os ditos normais? quem a fizera assim? Quem? 
Tantas vezes lutara com Deus. Por vezes duvidava desse deus que os pais veneravam acima de tudo.
E nesta manhã estava ciente que iria ser julgada e recriminada.
Mas estava preparada. Fosse como fosse iria revelar o seu segredo.
Ficariam a saber que estava noiva, sim. Mas não de Carlos Alberto como pensavam.
Luiza era a mulher que lhe enchia o coração e com quem partilharia sua vida.
Não abdicaria de sua felicidade.

Emilia Maria

O Segredo

Antero – Antero Sampaio, filho de Januario e sobrinho do coronel Albergado Sampaio. Meu pai era de Parada Vermelha, e nossa família veio de lá e se estabeleceu nas terras doadas pelo tio Alb (como era conhecido), no município de Pedra Branca situada entre os rios D’ouro e Merial. Meu nome passou a constar numa extensa historia de nossas terras. Era parente do manda chuva daquele município, e o homem era ruim que nem cobra Cascavel. Os empregados que trabalhavam prá ele sofriam horrores. Ele era o delegado, prefeito e banqueiro. Sua palavra era tida como lei naquele lugar. O que o dinheiro faz! Que eu me lembre, durante os anos que vivemos naquelas terras, ele foi somente uma vez à nossa fazenda visitar meu pai que tinha ficado muito doente. Depois nunca mais voltou. Ainda bem, ele dava medo na gente. Seus olhos eram malignos e seu sorriso cruel, parecia com o capeta – credo! 
Minha irmã Inácia foi à escolhida por ele para ser sua auxiliar – um tipo de secretária. Ela escrevia num imenso caderno de capa preta o número de empregados, vendas e compras prá fazenda do tio. Até quantas galinhas, bois, vacas e ovelhas tinham que ser contabilizado. O velho além de ruim era egoísta e avarento. Inácia contava com a estima do tio e por ser muito vistosa, o tio logo lhe arranjou marido. Tibério era o homem de confiança do tio, e sabia dos podres que o velho realizava por baixo dos panos, e era pau mandado fazendo tudo que o tio mandava. Uma espécie de capataz. Um dia o homem apareceu morto junto ao poço, com uma faca nas costas, enterrada até o cabo e um bilhete escrito: 
- Cada veiz que o coronê fizer um defunto, nois mata um dos seus parente. 
Inácia pirou de vez com a morte do marido, e o tio Alb indignado, depois de revirar tudo com seus jagunços a procura do meliante, desistiu depois de algum tempo. Numa manhã, mandou um dos jagunços me buscar. O pai ficou amedrontado e a mãe logo que ouviu, agarrou do rosário e foi prá cozinha assentar num canto, calada. A fama do tio Alb era das piores, e em tudo que ele estava envolvido não dava nada que prestasse. Era um homem ambicioso e mau, muito mau. Confesso que fiquei amedrontado, mas acompanhei o jagunço até a fazenda Candinho, onde o tio já me esperava. Conduziu-me até seu “escritório” e me informou que eu seria a partir daquele momento o capataz da fazenda no lugar do falecido. Mandou-me levar Inácia de volta prá casa do pai e depois voltar. 
Quando cheguei com a coitada, encontrei o pai do lado de fora me esperando. A mãe tava no mesmo lugar na cozinha e ficou olhando Inácia toda de preto mais parecendo alma do outro mundo. Quando me preparava prá voltar prá fazenda Candinho, meu pai me pediu prá ter cuidado e a mãe só me abraçou. Inácia parecia em outro mundo, falando sozinha e andando de lá prá cá. Tudo ia bem – parecia. O tio não me contava quase nada, era muito desconfiado, mas eu sabia que ele não parava quieto, sempre saindo e levando consigo aquele bando de homens armados e alguns dias depois apareciam alguém morto, uma fazenda incendiada, um cafezal arruinado. Muitas fazendas foram tomadas porque os fazendeiros não conseguiam pagar seus empréstimos em dia. 
O tio era também o banqueiro de Pedra Branca, nada lhe escapava. Coitado de quem precisava de dinheiro e pedia sua ajuda. Era um verdadeiro agiota. Um dia ele colocou um pobre negro de castigo num quartinho escuro sem água e pão. O pobre já estava velho e mal dava conta do serviço. Fora posto para ajudar na cozinha, mas deixou a sopeira de estimação cair e ela virou mil pedaços. Isto bastou para acender a ira do tio. De madrugada eu me levantei e sabendo que o tio dormia sono pesado (bebia muito vinho no jantar) fui até o quartinho levar alguma coisa de comer pró Velho Tomás. E assim fiz por muitos dias. 
O tio me olhava desconfiado, mas nunca disse nada. Mas mesmo assim ficou enrolando para soltar o pobre. Numa manhã enquanto escovava o cavalo baio do tio, o velho negro apareceu todo risonho e me entregou um pequeno embrulho e pediu que eu não deixasse o tio ver. Fiquei mordido de curiosidade. Suspirei fundo quando o tio apareceu e pediu prá eu selar o cavalo porque tinha uma visita prá fazer- Faço uma idéia que tipo de visita! Não era nada que prestasse, tenho certeza, mas pelo menos ele ia sair e eu ia poder ver o tinha naquele embrulhinho. Não agüentava mais de curiosidade. 
Logo que tio e seu cavalo fizeram a curva na estrada, entrei correndo e fui até meu quarto e fechei a porta. Com o embrulho nas mãos me assentei na cama e finalmente abri. Enrolado naquele pedaço sujo de papel estava uma pedra azul maravilhosa que parecia viva de tanto que brilhava. Enrolei a pedra e sai à procura do Velho Tomás. Encontrei-o na senzala vazia, encostado na parede de barro com um cachimbo na boca sem dentes. Ele sorriu a me ver e fez sinal prá eu me assentar perto dele. Fiquei em silencio esperando o que aquele velho já arqueado pelos anos tinha prá me contar. Ele ficou me fitando e apontou pró embrulho em minhas mãos. Então começou: 
- Sinhozinho, eu sei que o minino memo sendo parente do mardoso, é um minino muito bão, num tem o sangue ruim do patrão. Muita gente morreu pur causa dele, mandou matá um monti e otros se mataru pruque ficarum pobre, perderum tudo. Seu tio tomô. Tô aqui nessa fazenda muito tempo. Eu era moço e fui comprado com minha muiê e fio. Ele apostou ela no baraio e perdeu. Levarum ela e nunca mais eu vi ela. Dispois o marvado pegou do meu fio e vendeu ele prum viajante mascate, num vi mais. Agora tá na hora daquele fio do chifrudo sê castigadu. Sabe, sinhozinho, seu tio tem um quartinhu dibaxo do tapeti da sala cheia de oro, moeda e pedra escondido. Um dia eu fui leva café prele e ele tava saindo de lá. Ele num mi viu e não sabi que eu vi tudim, eu inté intrei lá inscundido.
Fiquei de boca aberta, pasmado diante daquela revelação. Coitado do Velho Tomás, deve ter sofrido horrores nas mãos do tio. Mas vem dia, vai dia e as coisas mudam. O tio era solteirão- também quem iria casar com aquela peste?
No final da semana, ele anunciou que ia prá Capital tratar de negócios. Ficou uns três dias fora. Voltou com cara abatida e pediu prá Parmela (negra faz tudo) um chá e foi prá cama. Não levantou mais. Mandou chamar o Dr. Rubião Pedreira (Advogado) e ficou com ele no quarto o resto da tarde. Chamou-me e mandou acompanhar o homem até a charrete. Quando voltei ele estava aos berros com a Parmela que saiu do quarto chorosa. O Velho Tomás ficava de pé na soleira da cozinha com um olhar muito estranho, e quando me via fazia sinal pró chão: – Credo! 
Dois dias depois o Advogado voltou de novo com um envelope nas mãos, entrou no quarto e saiu logo depois e foi embora. O tio ficou meio doido de repente. O pai veio ver ele, mas foi mandado embora, não queria ver ninguém. Mandei chamar o Dr. Barbere, mesmo tão ruim eu tinha dó do tio – ninguém merece! Quando ele saiu do quarto, olhou prá mim, balançou a cabeça e foi embora. Fiquei ali de pé olhando prá porta do quarto sem coragem de entrar. Tomei coragem, empurrei a porta e entrei. O Máximo que o tio podia fazer era me mandar sair, mas não. Ele ficou me olhando e pela primeira vez vi medo nos olhos dele. Estendeu a mão e me mostrou o envelope fechado, fez um gesto me mandando sair. Não falou nada e nem precisava. Mais parecia um defunto desenterrado fora da hora. Prá quê sô! Tão ruim e acabar assim. No outro dia ele estava espichado na cama, duro que nem um pau com os olhos arregalados, e a língua toda de fora. Parmela tinha ido levar o café e quase matou a gente de susto com o berro que deu! Logo a noticia se espalhou. Me contaram depois que o dono da birosca Bulibile serviu cachaça de graça prá todo mundo. Coitado do tio!
Do jeito que o povo odiava ele, era até possível aparecer alguém e fazer xixi no túmulo dele. O Dr. Rubião apareceu e deu o morto como morto. Deus me livre, já vi muito defunto feio, mas o tio parecia o capeta comendo manga verde. Em dois dias tava tudo acabado. Oh enterro mixuruca! Tanto dinheiro e ninguém prá chorar o falecido. Meu pai e Inácia ficaram sentados perto do caixão ali no meio da sala. A noite ia ser longa, mas ninguém apareceu. Só a mãe chorava sem parar, levantava ia lá perto do defunto olhava prá ele e dizia: - coitado, foi pro inferno de cabeça prá baixo. Agora ta lá em baixo tomando café com “O Coisa Ruim” – e chorava mais um pouco. Depois ficou cansada e foi prá cozinha bater papo com a Parmela e trocar receita de broa de fubá. 
Quando o dia amanheceu, o coveiro apareceu e começou a cavar um buraco lá perto do chiqueiro, ele dizia que era o melhor lugar pró malvado ficar. Antes que a Parmela terminasse o almoço, tudo já tinha acabado. Da soleira da cozinha dava para ver aquele horroroso monte de terra lá perto do chiqueiro com uma flor de Girassol que a mãe com dó do defunto colocou depois que o coveiro foi embora. Os jagunços da fazenda já queriam saber quem ia pagar o soldo deles porque pretendiam dar no pé logo, logo. 
De tardinha, o Dr. Vadinho que tinha ficado pró enterro, chamou eu e o pai e com uma pasta de couro encardida na mão foi andando pró escritório do tio. Mandou a gente se sentar e chamou o velho Tomás, que veio correndo. Havia uma alegria disfarçada nos olhos dele quando me olhava. O advogado mandou que ele fosse ao quarto do tio pegar o envelope que entregara dois dias atrás. O velho ficou apavorado só de pensar em entrar lá, mas foi assim mesmo e voltou como um raio. Dr. Vadinho de pé atrás da grande mesa entulhada de bugiganga começou abrindo a pasta e o envelope. Depois olhou prá nos e disse: 
- Seu Januário, o seu irmão o coronel Alb não tinha família constituída, a não ser o senhor, sua esposa e os dois sobrinhos.
Ele me chamou uns dias atrás e pediu para redigir um documento passando a fazenda no nome de seu filho Antero com tudo que ela possui. Me pediu prá o senhor colocar a sua fazenda no nome da Inácia e vir para cá ajudar o seu filho a tocar esta fazenda. Ele não deixou nenhuma dívida, mas deixou algum dinheiro para o Antero pagar os jagunços, caso eles queiram partir. Os escravos e empregados pertencem à fazenda Candinho. Os documentos de posse estão neste envelope. Está fazenda é prospera e produtiva e deve continuar assim. Estendeu um documento prá eu assinar como novo dono e o pai como administrador. Deu ainda alguns recados do falecido e foi embora sem antes deixar bem claro que iria continuar como advogado da Fazenda Candinho. Eu e o pai ficamos um olhando pró outro de boca aberta. Até aquele momento nenhum de nos dois havia dito uma palavra. Parecia que o tempo tinha parado. Passei a mão no rosto pasmo com a notícia. O pai tava branco feito papel:
– Era inacreditável que o velho muquirana tivesse feito algo de bom neste mundo. Talvez a Dona Morte tenha aparecido prá ele e com medo de ir pró inferno, resolveu executar a sua única bondade na vida. – Será? 
Levantei com pernas bambas de susto e quando olhei para a porta da cozinha, a mãe tava de pé sorrindo abraçada com a Inácia. Parmela e o velho Tomás olhavam prá mim com os olhos cheios de lágrimas. Caminhei até a sala e fui até a janela e vi o Dr Vadinho conversando com os empregados e os jagunços, menos mal. Fiquei um tempo ali parado olhando para aquelas terras cheias de plantações, gado e muitas árvores, o lugar era muito lindo.
Quando ia para a cozinha é que notei que não estava sozinho. Ali parado, bem no meio da sala, de pé em cima do tapete estava o velho Tomás sorrindo. Ele veio andando ao meu encontro e me abraçou e apenas disse: - Bom fio, oce é bom minino e mereci tudu issu e também o que tá aqui debaxu!

01-08-2013
Rosangela ferris
FBPE/220.83054


NOITES DE BREU
Lembro-me de noites escuras como breu. As tuas saias negras, rodadas e compridas eram muito maiores do que eu. Nelas eu sentia o aconchego e o calor, nelas eu me abrigava e perdia o pavor das trovoadas - aquelas em que rezavas: 


Santa bárbara bendita

que no céus estais escrita

com um raminho de água benta
livrai-nos desta tormenta.



Lembro-me de caminhar segura - a minha mão pequenina na tua mão de avó. Mas o meu irmão (pouco maior que eu), do medo fazia festa e saltava à nossa frente. 

Lembro-me de uma velhinha amiga me oferecer uma laranja que só reconheci pelo apalpar. E o traquina veio sussurrar-me ao ouvido: é uma bruxa!

A laranja tremia na minha mão, mas eu seguia firme na tua, avó querida. 



Que saudades desses tempos de criança, das brincadeiras, da segurança da tua mão na minha e do lampião que seguravas na outra mão. E a verdade é que a tua luz, avó Adília, ainda me alumia.


Teresa Almeida


RESPOSTA DO CÉU...
Uma pobre mulher, viúva e muito pobre morava numa humilde casinha bem afastada da estrada com a sua netinha que estava muito doente. A menina estava com ela desde os dois anos de idade e agora com sete anos adoeceu. Seus pais foram buscar uma vida melhor em outro estado e como o destino era incerto, resolveram deixar Ana com a avó. 

Os anos se passaram e eles não voltaram para buscá-la como haviam prometido. Apesar de toda dificuldade, aquela avó não saberia mais viver sem a menina. Como não tinha dinheiro sequer para levá-la a um médico, e vendo que, apesar de seus muitos cuidados e remédios com ervas que cultivava em sua pequena horta, a pobre criança piorava a cada dia, resolveu iniciar a caminhada de 2 horas até á cidade próxima e buscar ajuda. Com certeza encontraria uma boa alma disposta a lhe estender as mãos.

Ao chegar ao único hospital público da região foi aconselhada a voltar para casa e trazer a neta, para que esta fosse examinada. Desolada a mulher sentou-se num degrau e ficou a pensar como poderia fazer tal coisa se a neta mal podia ficar de pé, quanto mais andar por 2 horas pela estrada cascalhada e irregular de casa até o hospital. Um desânimo imenso tomou conta de seu coração, mas o amor falou mais alto e ela decidiu não desistir. Tentaria outra solução- talvez a única que restava.

Enquanto voltava para casa, desesperada por saber que sua neta não conseguiria sequer levantar-se da cama, a mulher passou em frente a uma igreja, e como acreditava em Deus, apesar de nunca ter entrado numa igreja, resolveu pedir ajuda. Ao entrar, encontrou algumas senhoras ajoelhadas em oração. As senhoras receberam a visitante e, após se inteirarem da história, convidaram-na para se juntar a elas e orarem pela criança. Após quase uma hora de fervorosas preces e pedidos a Deus pela saúde da menina, as senhoras já se levantavam quando a mulher lhes disse:

-Eu também gostaria de fazer uma oração.

Vendo que se tratava de uma mulher de pouca cultura, as senhoras retrucaram:
- Não é necessário. Com nossas orações, com certeza sua neta irá melhorar.
Ainda assim a senhora insistiu em orar e começou:
- Deus, sou eu, a Noêmia. O Senhor se lembra de mim não é? olha, a minha neta está muito doente. Ela se chama Ana e é uma menina muito boazinha. Deus, assim eu gostaria que o Senhor fosse à minha casa e ver como ela está. E Deus, pega uma caneta que eu vou dizer onde fica a minha casa e como o Senhor vai fazer prá chegar lá. As senhoras não sabiam se ria da velha ou a fazia se calar. Isto lá é jeito de falar com Deus! Mas continuaram a ouvir. 
Depois de alguns instantes, Noêmia continuou: 
- Já tem a caneta Deus? Então preste atenção que eu vou explicar. Vá seguindo o caminho daqui de volta pela estrada e quando passar o rio com a ponte toma muito cuidado, ela está meio podre e tem algumas tábuas quebrada. Entra na segunda estradinha de barro, ela está muito lamacenta mas com cuidado dá pró Senhor passar. Bem na entrada tem uma árvore bem grande de goiaba. O chão fica muito perigoso com as que caem de madura. Cuidado prá não escorregar. Não vai errar de goiabeira. Lá tem um punhado delas.
Nesta altura as senhoras esforçavam-se para não desatar a rir; uma delas já muito brava com a “falta de respeito” da velha ameaçou de por ela prá fora da igreja, mas foi impedida pelas outras senhoras que agora estavam achando graça naquela “oração” e deixaram ficar. Noêmia então continuou:
-Se o Senhor continuar andando vai chegar numa curva e ver uma vendinha, entra na rua depois da mangueira que o meu barraquinho é o último da rua, pode ir entrando que não tem cachorro. As senhoras começaram a indignar-se com a situação.
- Olha Deus, a porta está trancada, mas a chave fica debaixo do tapetinho que eu mesma fiz com retalhos na entrada, o Senhor pega a chave, entra e cura a minha netinha.
Mas olha só Deus, por favor, quando o Senhor for embora não se esqueça de colocar a chave de novo por baixo do tapetinho de retalhos, senão eu não consigo entrar quando chegar a casa. O senhor deve chegar lá primeiro do que eu.
Nesta altura as senhoras interromperam aquela ultrajante situação dizendo que não era assim que se deveria orar, mas que ela poderia ir pra casa sossegada, pois elas eram pessoas de muita fé e Deus, com certeza, iria ouvir as suas preces e curar a menina.
A mulher foi para casa um pouco desconsolada, parou no caminho perto da ponte velha e com os olhos cheios de lágrimas olhou para o céu e falou: - Sabe Deus, não sei falar bonito e nem como chegar perto do Senhor, mas tenho certeza que me ouviu. Continuou a andar agora apressada porque o tempo estava anunciando que logo iria começar a chover. Isto agoniou a velha senhora. – Tomara que não chova até que Deus chegue lá em casa, senão ele não vai conseguir passar pela estradinha. Ao entrar na sua casinha sua neta veio correndo para lhe receber.
-Levanta, e venha me dar um abraço apertado.
Não sei como, eu simplesmente me levantei. Ele me abraçou e passou suas mãos pelos meus cabelos. Quase em pranto a menina continuou.
-Depois ele ficou a olhar pra mim. Seus olhos brilhavam como as estrelas. Ele sorriu, beijou minha testa e disse que tinha que ir embora. Mas, vó, Ele deixou um recado. Pediu que eu avisasse à senhora que ele ia deixar a chave debaixo do tapetinho de retalho e foi embora.



31-07-2013


fbpe/220.83054

Adap.



Fora de Área

A noite caíra rapidamente... Um vento ligeiramente frio completava o quadro invernoso daquele cenário. Naquele final de tarde saí para a escola bem mais animada que o habitual, pois eu adoro dias frios e chuvosos. Mas longe estava eu de saber que aquela noite me reservava momentos dramáticos, embora para outras pessoas talvez não chegassem a tanto. Ao sair da escola naquela noite, juntamente com o meu inseparável amigo, Sérgio, liguei para a minha filha que estava saindo do trabalho e combinamos de nos encontrar, fato este difícil de acontecer, mas naquela noite eu saí cedo da escola e a minha filha, Kellinha havia saído tarde do serviço. Caminhando tranquilamente, Sérgio e eu conversávamos, quando repentinamente o tempo tem uma mudança brusca, é certo que era inverno, mas inverno no nordeste chega em muitas vezes a ser tedioso, salvo em alguns raros momentos de chuvas torrenciais, mas isto é algo que não ocorre com a frequência que deveria ser, pelo menos não na maioria dos invernos, exatamente como estava sendo aquele...E num repente, sem que fosse esperado, começa a soprar um vento forte acompanhado de chuva. Eu logo me preocupei mas Sérgio procurou me tranquilizar, pois não demoraria e Kellinha estaria conosco antes que aquela situação se complicasse. Mas aconteceu o pior... ela não apareceu e o vento foi assumindo proporções imensas, a chuva ficou assustadoramente violenta. Desespero-me, observo objetos pequenos e leves e até mesmo uma cadeira de plástico que passam voando diante dos nossos olhos como se fossem simples folhas de papel. A aflição surge tão rápida quanto aquela chuva com ventos cada vez mais fortes, parecendo sibilar de forma cruel diante da incapacidade humana de controlar tal situação. E a medida que aquele inesperado fenômeno cresce, aumenta também o meu desespero, principalmente por não conseguir entrar em contato com a minha filha, eu precisava saber onde ela havia se abrigado, mas o celular dela só dava fora de área. Sérgio mais controlado tentava me acalmar dizendo que ela devia estar abrigada em algum lugar, já que houve um rápido contato pelo celular, onde mal eu ouvi a voz dela e o que ela tentava me falar era quase inaudível, mas era um sinal de que as coisas estavam ao menos razoavelmente bem com ela. O meu desespero era crescente a cada minuto que o tempo passava e aquela situação só tendia a piorar. Sérgio vendo o modo como eu me encontrava, resolveu sair para procurar minha filha, mas fora em vão, nada conseguiu. De repente o pior acontece... Os fios de iluminação pública começam a pegar fogo. Eu desesperada me ponho a chorar, era visível a aflição dele diante de uma situação onde ele nada conseguia fazer, a não ser me apoiar, o que representava uma grande atitude num momento tão delicado. A falta de energia culminou com o desespero total diante da minha impotência... e após longos e angustiosos momentos, a chuva ficou um pouco mais fraca, o vento diminuiu um pouco e saímos em busca da minha filha, e quando finalmente nos encontramos, eu fiquei como criança diante de ambos, minha filha estava toda encharcada, pois não dera pra ela se abrigar da chuva a tempo, mas dos demais acontecimentos, ela conseguiu se proteger. E nós não demoramos muito para encontrá-la porque um senhor a convidou a sair do abrigo onde se encontrava pois ela estava sendo visada para um assalto. Ela disse que havia conseguido abrigo minutos antes dos fios pegarem fogo. Mentalmente agradeci a Deus pelo grande livramento. Após nosso encontro, Sérgio nos acompanhou e ficou conosco até chegar a nossa condução. Nos despedimos e ele se foi completamente encharcado para o trabalho, o mesmo trabalha num canal de TV aqui da capital. Dentro do ônibus eu fiquei pensando nele e no grau de amizade que nos une, pois se o mesmo quando saísse da escola fosse embora para o trabalho, ou mesmo para casa não teria passado pelo que passou. Mas não, ele sempre está comigo todas as noites até eu pegar o ônibus que me levará para casa. E naquela noite não havia sido diferente. E quando o vento aumentou e começou a chover, ele procurou me abrigar com o seu corpo, para que eu não me molhasse, deu as costas para a chuva e para o vento, deixou-me encostada a parede, debaixo de uma marquise e com o seu corpo fizera uma espécie de escudo para me proteger. Eu nunca vou esquecer a atitude dele...Aquela noite tudo contribuíra para momentos de terríveis sensações, para momentos de puro medo e hesitações, mas foram naqueles momentos que mais uma vez eu pude comprovar a sinceridade daquela amizade que nos une de forma tão grandiosa, não há dúvidas de que Sérgio é um homem de excepcionais e transcendentes qualidades que em muito só faz crescer o seu valor. E que valor para mim ele tem... simplesmente inestimável.


Gil Ordonio



UM ROUXINOL


Na manhã desta terça-feira, porque ainda é cedo para o meu trabalho, vou dar uma voltinha pela Praça da Município.

Agora, o tempo está fresco, a manhã está lavada pela chuva da madrugada neste céu azul ainda mais azul com o sol amenizando o fresco desta manhã de sabor outonal.

No meu passo vagaroso, vão sendo minha companhia os pensamentos mais diversos; daqueles que aparecem e desaparecem como as andorinhas no espaço em voos de dança e círculos negros no seu estonteante chilrear.

À frente dos meus passos, no chão, uma pequenina sombra castanha. Páro e observo-a: não é uma sombra; é o perfil, o corpo de um passarinho. Tombado de lado e patinhas esticadas. Mesmo convencido de que está morto, pego nele para o poupar de uma pisadela mais distraída, que o deixará em papas.

Com ele na mão, verifico: não está morto! E o seu coraçãozinho bate com tanta força! Quem dera que o meu ao menos de vez em quando assim batesse e não teria de pôr o “passamaker”!
Olho para ele melhor. De um dos olhinhos fechados, sai uma pintinha de sangue. Do esquerdo, com ele voltado para mim.
Que fazer, agora, com ele abandonado na minha mão, com um coraçãozinho a bater tanto, ou de sofrimento, ou de medo, ou de exaustão? Ele vai morrer! – penso.
De que me lembro, então? Das flores escarlates, abundantes, a bordejar os contornos das fontes da Praça, pingam minúsculas gotas de água da chuva caída; gotas estas que têm o condão de se transformarem em pérolas de beleza rara e brilhante, ora faiscando de oiro, prata, ou azul, ou com todas as cores do arco-íris. Gotas, ali, nos dois extremos de uma interpretação : ou da felicidade e júbilo num universo de maravilha; ou simplesmente de uma lágrima a escorrer por um rosto de sofrimento.
E chego o bico do passarinho a uma destas gotas . Todo de cor castanha. Que parece um rouxinol. Que para aqui terá vindo, não se sabe como e terá batido com a cabecita contra uma das montras dos estabelecimentos à volta. Isto é o que eu, neste momento, imagino.
Quando a gotinha de água lhe entra no bico, ele reage e um dos olhitos abre-se. Do outro, sai mais uma gotinha de sangue. Mas logo volta ao seu estado letárgico, deixando-se continuar abandonado na minha mão.
Repito esta experiência. Mais uma e outra e outra vez. Uma delas, na vista que teima em continuar fechada. E ele vai reagindo…E abre ambos os olhitos, que logo volta a fechar.
Depois de uma boa meia hora com ele na minha mão e depois de mais algumas gotas de água balsâmica, na vista e no bico, o passarinho já consegue ter os olhitos abertos mais tempo. E já se tem nas patitas. E já olha para mim e tenta fugir. Como ainda não consegue, abandona-se novamente.
Deixo-o então mo meu carro. Com água e umas migalhinhas de pão. E assim fica até ao meu regresso ao carro para o almoço, receando que entretanto ele tenha mesmo morrido. Mas não. Está ali a olhar para mim. Sem fugir. Sem medo. E vai comigo dentro do carro. Já solto mas sem fugir.
Na minha casa, deixo-o num espaço amplo. Dentro de um caixotinho. Quando do trabalho regresso a casa, à tardinha, ele já voava. Observo-o bem. Olho para uma vista…Olho para a outra que estava ferida… Ambas estão limpinhas e brilhantes. Num brilho escuro muito vivo de azeitona.
Abro-lhe então a janela. E como ele voa até poisar uma centena de metros adiante nos ramos de um loureiro!
Fica feliz, meu rouxinol! Canta! Canta muito e sê feliz! Se não tenho sido eu, a esta hora, de tão insignificante que outros distraídos te considerariam, já estavas morto, feito em papas dos muitos passos que passariam por cima de ti.
E sabes o que ainda sinto na minha mão? O galopar do teu coraçãozito “pum-pum! pum-pum! pum-pumpum! Num corpinho quente, mais leve que as penas que te agasalham!
Queres trocar o teu coração pelo meu?...


AUTOR - PEDRO MARQUES
VIZELA, 2009.09.01

TERÇA-FEIRA



" OS AMORES DOS SEMI-DEUSES..."



AURORA BOREAL era filha do NASCER DO DIA e duma afilhada da Lua chamada MANHÃ DOURADA . Nas suas andanças percorrendo os Astros , conheceu um belo mancebo de nome RAIAR DO DIA ;por ele se apaixonou e vieram a casar .

Viviam felizes nos Céus do Olimpo , quando neles surgiu uma sedutora donzela , de seu nome PRIMAVERA , a qual tudo fazia para chamar a atenção de RAIAR DO DIA .

O tempo foi decorrendo e Cupido , lançou as suas setas nos corações de RAIAR DO DIA e da PRIMAVERA ...

AURORA BOREAL ao aperceber-se do romance existente entre eles , começou a sofrer e a sua tristeza manifestava-se nos Astros , resolvendo dar a conhecer o seu desgosto a sua tia Penumbra , a qual prometeu ajudar , mas entretanto os Céus deixaram de ter a habitual luminosidade...

Os Deuses , quiseram saber qual a razão porque os Céus tinham perdido o seu brilho e chamaram a AURORA BOREAL e o RAIAR DO DIA , para cada um deles e em separado , contarem as suas aventuras e desventuras .
---RAIAR DO DIA , falou da sua paixão pela PRIMAVERA ; que não lhe fora possivel resistir aos seus encantos ; que não rejeitava a sua esposa AURORA BOREAL , mas que a sua paixão pela PRIMAVERA era tão intensa e profunda , que se poderia classificar de doentia ...
---AURORA BOREAL , falou do seu amor pelo RAIAR DO DIA ; da intromissão da sua rival PRIMAVERA na sua vida amorosa e conjugal , da sua dor e desgosto pelo sucedido ...
Os Deuses , analisaram a situação , julgarem e deram a sentença :
"...AURORA BOREAL , ficou sentenciada a surgir todos os dias , mesmo ofuscada por neblinas (onde os dois amantes se escondiam) e para os denunciar se não cumprissem as penas que lhes seriam impostas..."
"...PRIMAVERA seria autorizada a viver só três meses com o RAIAR DO DIA e os restantes nove meses não se iria intrometer na vida do casal , ficando todo esse tempo sob a guarda do Inverno - Verão e Outono , durante três meses a cada um..."
"...RAIAR DO DIA , teria que surgir durante as quatro estações , mesmo que ofuscado pelo Nevoeiro ; Neblinas; Tempestades ; Furacões ; Tornados e Trovoadas .
Só viveria durante três meses com a PRIMAVERA , porém todos os dias do ano era obrigado a ir (pelo menos) saudar a AURORA BOREAL , dado ser a sua legítima esposa..."
Os Deuses estavam convencidos , que tudo ficara normalizado ; porém o Amor da PRIMAVERA pelo RAIAR DO DIA era tão intenso , que desejava viver sempre com ele , mas dada a impossibilidade chorava de desgosto e desse choro nasceram os seus filhos Chuva , Orvalho , Neve , Granizo e Humidade , os quais surgem em qualquer estação do ano , para nunca nos esquecer-mos do desgosto da PRIMAVERA por não lhe ser possivel viver todos os dias com o grande amor da sua vida...o RAIAR DO DIA.
Esta história estava guardada no segredo dos Deuses e s´´o foi revelada , porque até os Deuses contam os seus segredos , os quais teem escondidos nos cofres secretos do 
Olimpo !!!...

António J. A. Cláudio




ESCUTE MEU FILHO

Meu filho venha cá, você esta vendo aquele senhor 
ali já com a idade avançada, sentado sempre sozinho 
absolto em seus pensamentos.
Aquele que muitas vezes você chama-o de velho gaga
e mesmo assim você é o único ser que ele aceita brincar. Sim ele é o teu avô, o meu pai, e um dia quando eu era assim, pequeno igual você ele brincava comigo. Sempre teve cuidados para mim, me ensinou a viver dizendo e me explicando muitas coisas da vida. Filho, você sabia que ele tem manias, e que muitas dela mesmo sem ele me dar eu carrego, e tenha certeza que você também irá carregar por toda vida.
Filho, assim como você é para mim, eu sou também para ele eu cresci, mas no conceito dele eu ainda sou pequeno. É filho, mas quando criança eu também já fui assim como você, eu era príncipe no reinado do coração dele. Filho eu vou te contar um segredo... Quando eu era bem pequeno, eu tinha ele o meu pai, como o ídolo mais imenso do meu sentimento, ele para mim era o melhor em tudo, e eu defendia de qualquer acusação, ele sempre foi o mais certo do mundo para o meu coração, e eu era o reflexo do sol da vida dele, e sempre fui o seu maior sonho, no qual ele me teve todavia como um anjo, e nos sentimentos dele eu fui o seu maior e mais caro tesouro de sua vida.
Filho você não sabe mas herdamos e carregamos as marcas que ele sempre carregou. Sempre iremos andar no caminho feito por ele, ele hoje vive em um mundo só dele, mas outrora compartilhava todo o seu conhecimento adquirido, no decorrer de sua vida para comigo. Vou te contar mais uma filho, todo esse acontecimento do sistema político e religioso, de nosso tempo, no tempo dele já existia e no tempo do meu pai seu bisavô; é claro, meu avô, pai do seu avô, já falecido, também já existia e, assim sucessivamente. Bom teve sim algumas diferenças em relação à hoje, mas tudo perdura, todavia mudaram só os métodos e os jeitos, mas aumentaram os defeitos. Em outro tempo a escravidão morava em senzalas, e só os coronéis eram chefes do escravismo, 
e as pessoas da cor preta eram os únicos escravos,  hoje esse feito se expandiu, pela cor e classe social, 
não sabemos mais que é escravo e nem aonde é a moradia da escravidão. E o próprio país, é o dono da escravidão junto ao esquema governamental, e é claro com apoio das religiões, que, diga-se de passagem, tem religião à perder de vista. 
Guerra filho, era marcado em campo aberto e só os homens iam para lutar, chegando lá se postavam em fila frente á frente e se atacavam em luta corpo a corpo. Hoje não sabemos onde esta a guerra, e esse feito acontecem todos os dias em qualquer lugar, ate mesmo dentro da nossa casa, nossos lares.
Olhando assim filho da para perceber que todos e somos réu trancafiado em nossa própria casa de maneira que não podemos sair em qualquer hora.
Hoje o lazer é editado pela TV e, a nós nos cabe a olhar. Inventaram um monte de parafernália e é nelas que o nosso ganho vai parar. Trouxeram o erotismo explicito para dentro do nosso lar exposto pela tela da televisão, Reduziram o nosso ganho e cadearam a nossa liberdade, expandiram as guerras pelas cidades, e vivem fustigando a dura verdade.

A. Montes 30/07/13


CONTOS ( O MEU JARDIM )

Hoje vou ter uma conversa , e vai ser com a joaninha porque ela já não tem pressa e está sempre nesta janelinha , desculpa amiga ,afinal onde está aquela frescura de te levantares e com aquela ternura te dedicares ao jardim da tua casa, , o que se passa afinal? tens que voltar ao normal o teu lindo jardim passas por ele não lhe ligas , não pode ser !!!aquelas flores chamando por ti ,parecem dizer eu estou aqui !!e então as rosas olham tristes parece que nem existes e fazem reclamação ,porque foram trocadas e não são mimadas as flores do teu jardim ,agora o facebook é que lidera e o jardim fica à espera como é afinal ,? alguma coisa tem que mudar .
O face tem que esperar porque é verão ! e a chuva não vem regar nem a terra repassar , e as tuas lindas flores que eram o teu orgulho e com elas passavas horas a conversar , vamos lá pensa no que te digo se queres ver um jardim florido 
podes contar comigo ,mas dessa cadeira te vais levantar , porque eu sei que te vai custar ,mas reparte um pouco com teu jardim que de ti está a precisar , e sabes que com ele sempre contaste com tantas flores que apanhaste e agora queres abandonar ? não e vou responder não deixo de te dar razão ,e vou pensar então o melhor para todos ,o meu jardim vai ser cuidado porque nunca esteve desprezado ,apenas teve menos atenção .

Joana Rodrigues 
30/07/2013 


Um Conto ao Luar

(...)
No momento em que começo a folhear as notícias, oiço a minha esposa:
- Não faça isso! Não mate o bichinho!
Olho para o sítio do destino da súplica e vejo o funcionário do café, de avental comprido e bandeja na mão, a esmagar com o sapato um minúsculo, indefeso e frágil insecto de cor verde – um louva-a-deus.
De imediato até eu fico indisposto com semelhante acto, agravado pela resposta de mau humor do interpelado, que diz “ o que incomoda é para matar!”.
Não esmagou na totalidade tão minúsculo bichinho, que no seu comprimento, não atingiria os seis centímetros, deixando-o a esbracejar nos espasmos da morte.
À Indiferença e má disposição do funcionário, tive de responder eu com nova esmagadela de sapato. Mas num gesto de misericórdia para que este insecto deixasse de sofrer (penso que os insectos sofrem também…).
Muito me custou isto. E ficou a doer-me a alma ao ver este animalzinho verde, ali jazendo no chão da Praça, junto ao rodapé de uma montra, de patinhas ao comprido, com as superiores em forma de oração. Como se estivesse a dormir.
Em má hora este bichinho voou de um paraíso de plantas verdes onde ele foi buscar a sua cor e onde teria continuado a entreter-se de patinhas superiores ao alto numa simulação contínua de oração a Deus. Numa função de protecção das plantas de seres nocivos às mesmas. Estava fazendo bem, na sua função ecológica, por respeito e imperativo da Natureza
Em tua memória, infeliz animalzinho, aqui fica o registo da minha sensibilidade por ti, cuja vida era tão digna como a minha e a de todos os seres ditos racionais. Mas cuja irracionalidade leva a actos destes de falta de respeito por uma vida que, para os ditos, não passa de desprezível. Desprezível, sim, será a de todos quantos como esta pessoa respondem “ o que incomoda é para matar!”.
Bendito sejas meu louva-a-deus! Para mim, na tua posição de deitado, não ficaste morto: ficaste a dormir o sono do Tempo até que o Tempo se encarregue de vingar a tua morte.

José Pedro Carvalho Marques


Um encontro ao luar...

Aquele casal tinha se conhecido de uma forma bem complicada.
Avanço tecnológico. Sim em uma rede social. Não seria problema, porque isto hoje em dia é bem comum.
O incomum foi que perdidamente se apaixonaram. Sem se quer, se verem.
O amor é realmente uma essência que vem da alma.
Estavam longe, do outro lado do continente.
Mesmo assim o amor fluía a cada dia.
As almas se identificaram.
Falavam por telefone, com aquela saudade imensa, de dois corações que querem pulsar juntos.
A intensidade deste amor era imensa, do tamanho da distancia que os separavam.
Brigaram por várias vezes, existia o ciúme.
Ciúme causado pela impossibilidade de estarem juntos.
Cada um tinha a sua vida consolidada em seu País de origem.
Apesar do amor, seria bastante difícil, deixar para trás uma vida já feita.
No romantismo todo que cercava esta união, ele dizia para a sua amada, que um dia
Viria ao seu encontro.
E este dia ele dizia que chegaria numa bela noite de luar.
E que esta história dos dois teria até um nome, “Um conto ao Luar”.
Eis que, uma bela noite de um esplendido luar, o telefone dela toca.
Era ele, dizendo ter chegado. Ela incrédula, quase desmaiou com tão grande surpresa.
Era verdade.
Marcaram um encontro num mirante, de onde se via o céu com uma radiante lua.
Lá os seus corações se encontraram, um sentiu o pulsar do outro, os olhos somente imaginados, se viram pela primeira vez e a boca sedenta de amor, se tocou. Neste cenário havia uma bela noite de luar.

Solange Moreira de Souza
23.07.13


Elegia a um cão
Morreste, meu pobre animal. Fui-te visitar hoje e vi vazio o teu sítio e dependurado o cadeado que te prendeu a vida inteira.
Perdi algumas noites o sono a pensar em ti e como te haveria de arranjar um abrigo menos frio e cada vez mais a ideia de te comprar uma casota se ia engrossando no meu pensamento.
Infelizmente já não é preciso. Já morreste. Já te libertaste deste degredo, meu pobre cão que tanto gostavas das festas que te fazia enquanto o teu dono não te mudou de sítio. Depois, não pude mais. Mas tu conhecias-me e, de longe, ladravas-me o que podias. De súplica. Mas não podia valer-te.
E fiquei bastante abatido hoje, quando vi o teu tugúrio vazio e o cadeado dependurado. Ainda te assobiei, na esperança de que estivesses solto e me aparecesses. Mas os meus assobios não tiveram eco. Morreste mesmo.
Deixaste-me interrogativo, há dias, quando te vi de pêlo todo eriçado, as costelinhas todas à vista e as tuas costas em quase ângulo agudo. Já não estavas bem, meu pobre cão.
Nas noites em que chovia que Deus a dava, eu na cama me perguntava se tu estarias ao menos abrigado. Tenho bem a impressão de ficaste todo numa sopinha todos estes dias de chuva.
Ontem, vi-te. Mas tu não me viste. Estavas muito enroladinho sobre ti mesmo, pensando eu que a dormir. Devias estar era nos últimos momentos da pneumonia que te levou.
Como criatura que também és de Deus, a tua alma (tu tens alma também ) que mil anos atrás à mulher era negada, deve estar algures, tranquila, a beneficiar da libertação que a morte te deu.
E onde quer que estejas, meu animal, lembra-te de mim. E ajuda-me amanhã, que bem vou precisar da tua ajuda.
Descansa em paz, meu pobre cão.

José Pedro Carvalho Marques
           29.11.2088




Viver morrendo…

A casa estava silenciosa.
Portas e janelas fechadas.
Apenas um carro parado à porta fazia pensar que alguém estaria lá dentro.
Mas quem se incomodaria a pensar fosse o que fosse, quem se iria preocupar com aquela casa ou com quem nela se enclausurara.
Algum vizinho mais atento podia intrigar-se com aquela quietude sombria, algum dos curiosos que duas semanas antes tinham vindo à janela assistir à chegada do carro de mudanças.
Agora o silêncio imperava, o silêncio e a escuridão.
Se alguém se questionava sobre o casal que há pouco se tinha mudado para aquela casa, ninguém bateu à porta, ninguém foi perguntar nada.
Ninguém imaginava que dentro daquela casa uma mulher deambulava entre a vida e a morte, arrastava –se como uma densa e negra sombra entre a cama no andar de cima e o sofá do rés de chão.
Mãos trémulas, corpo gelado , dorido e entorpecido pela inércia e pela tristeza.
Os olhos inchados de tantas lágrimas jorrar habituaram-se à escuridão em que vivia há alguns dias, à escuridão que a sua vida se tinha tornado.
Perdera a conta aos dias e noites que vivia morta naquela casa gélida feita morgue.
O inverno começara cedo e rigoroso, e, ela não tinha sequer forças para ligar algum aquecimento ou mesmo acender a lareira.
Na verdade nem sentia o frio da casa, de tal forma o seu corpo e a sua alma estavam frios.
Não tinha força nem vontade para nada, apenas desejava adormecer e não acordar mais, por isso alimentava-se de calmantes, comprimidos para dormir.
As dores físicas eram muitas, mas a maior e mais profunda vinha do coração, um coração sofrido e magoado que tinha sido trespassado mortalmente alguns dias atrás.
Quando num ou noutro momento de lucidez se permitia lembrar dos factos recentes, chorava e pranteava, os soluços ecoavam nas paredes vestidas de desespero.
Fazia apenas duas semanas que se tinha mudado para aquela casa.
Uma nova casa, uma nova terra, a esperança de uma nova vida ao lado do homem que amava e acreditava ser o amor da sua vida.
Não era a primeira vez que o fazia, três anos atrás tinha mudado toda a sua vida, para uma terra distante, longe de amigos e familiares.
Tinha deixada para trás um emprego, uma casa e toda uma vida, tinha deixado tudo em nome de um amor que acabara de conhecer e ao qual se entregara de forma plena e incondicional.
Agora passados três anos de muita turbulência, desilusão, mágoa e sofrimento, mudava novamente toda a sua vida em nome do mesmo amor que apesar de tão atraiçoado continuava vivo e enraizado no coração dela.
Novamente deixava para trás um emprego, uma casa, os amigos que tinha construído entretanto e que tanto lhe haviam estendido a mão e dado o ombro para ela chorar as suas mágoas.
Estava novamente sozinha numa terra estranha, sem amigos e sem família.
Algo que tinha projetado numa vida a dois, na esperança que desta vez seria diferente e que finalmente todo o seu empenho e sofrimento seria recompensado com uma vida conjugal feliz e verdadeira.
Mais uma vez estava errada, mais uma vez via a sua confiança ser traída de forma cruel.
Apenas dois dias após a mudança tinha descoberto casualmente que ele estava em contato com a “outra”, sempre a “outra”.
No momento em que descobriu sentiu um punhal atravessar-lhe o corpo, sentiu a lâmina fria e mortal da traição rasgar-lhe o ventre.
Uma dor que a trucidava e aumentava à medida que o confrontava e que ouvia uma negação sarcástica.
Cega de dor fez daquele momento um nó na sua mente, caiu inanimada no frio chão da sala, não sabe por quanto tempo, lembra-se apenas de implorar para que ele fosse embora, a deixasse em paz de uma vez por todas.
Não o queria mais, aquele tinha sido o fim.
Tinha feito tudo, deixado tudo, dado tudo, tinha-se doado a si própria de tal forma que já não se conhecia a si mesma.
Mais uma vez ele se mostrou indigno do seu amor, do seu respeito.
Agora sabia que era o fim.
Tinha perdoado tantas vezes, tinha dado tantas oportunidades, aquela tinha sido a derradeira, disso tinha a certeza.
Passados alguns dias, conseguira que finalmente ele fosse embora…para sempre…
Fechou-se em casa, chorou e pranteou, enterrou-se entre paredes frias para no seu ser enterrar aquele amor que lhe corria nas veias qual veneno mortal.
Chorou a morte daquele amor, sozinha enterrou sonhos e ilusões, curou mágoas e desilusões.
Um dia, as janelas da casa foram abertas, podiam ver-se os cortinados a esvoaçar entre as varandas.
As portas abriram-se e ela saiu para a rua.
Os curiosos desta vez não abriram a janela, mas ficaram encostados à vidraça, podiam vê-la elegantemente vestida com um fato preto, camisa e sapatos vermelhos.
A maquilhagem cuidada e bem aplicada dava cor e vida aquele rosto que estivera enterrado vivo naquela casa.
Nos lábios a cor da vida que sentia vontade de viver.
Saiu da casa, entrou no carro que estivera durante dias e noites parado à porta daquela casa fantasma, e seguiu viagem.
Uma viagem rumo à vida e à esperança.
Aquela rua, aquela casa, aqueles vizinhos não mais souberam dela.
Ela não pertencia aquele lugar, percebeu isso enquanto fazia o luto do seu coração.
Partiu perdida para noutro lugar voltar a se encontrar.

           Victória Gomes
23.07. 2013




O pião

O pouco que Deus nos deu
Cabe numa mão fechada
O pouco com Deus é muito
O muito sem Deus é nada

Falar, hoje, do pião, será a interrogação sobre um enigma para as crianças das últimas gerações, o esforço de trazer à memória, um tanto já vaga, da juventude, um costume do seu tempo de meninos e recordar com alguma nostalgia, às pessoas da terceira idade ou a caminho dela, belos tempos em que se brincava com o pião. Mas outros jogos havia, também inventados pela necessidade que a pobreza, na sua força imaginativa, criava.
Nesse tempo de miséria e fome de alimentos e de dinheiro, mas abundante de carências, privações e resignações, qualquer coisa insignificante servia para as crianças de então se entreterem, sobretudo no tempo da escola, para onde se ia descalço e de calça rota no cu.
Então, era o jogo do botão, da bugalhinha (não o jogo a dinheiro da dita, mas a bugalhinha do carvalho). E o jogo do pião. Este pouco de entretimento nos bastava para sermos felizes e passarmos ao lado das senhas a racionar a comida, da falta de pão na masseira e do caldo de massinha e água d’unto. A bola também tinha o seu espaço: feita de trapos que se embrulhavam na meia da mãe, meia dúzia de putos da estrada fazia o seu campo de futebol já que, nesses recuados tempos, carros só de meia em meia hora passava um.
Se os jogos de computador, hoje, preenchem o espaço da fantasia das crianças, não lhes enchem, no entanto, nem sedimentam de sonho e poesia o espaço das suas almas, vazio, que não sentirão, nunca, o sabor e o calor daqueles brinquedos da nossa infância, onde, sobretudo o pião, era a nossa companhia fiel dentro da sacola de pano, ao pé dos livros, da lousa e do “ponteiro”.
E porquê a lembrança do pião? Porque, em 24 de Outubro de 1987 (num sábado ) pude presenciar o episódio que vou descrever, e que registei nos meus apontamentos.
Nesse dia, por mero acaso, pude presenciar o esforço de um avô a ensinar um dos netos a jogar o pião, num local da nossa Vizela. É evidente que eu me encontrava em sítio discreto e de onde não era visto. 
Então, avô e neto, por companhia, tinham precisamente um pião. Ninguém duvidava do afecto e carinho que este avô tinha pelo neto; mas desastrado na forma de o demonstrar.
E que estava eu presenciando? Este avô tentando ensinar ao neto o jogo do pião. No entanto, mais que tentar, estava ele a reviver o seu tempo de menino em que foi exímio neste jogo e assim regressando, nesses poucos minutos, ao seu tempo de criança. E a força do seu braço, apesar da idade, ainda fazia o pião zungar numa suavidade e leveza de pena.
Depois, passou-o ao neto, a quem ensinou a enrolar a baraça. Mas o neto não consegue. E é o avô que a enrola e assim passa o pião para a mão do pequenito.
- Azunga-o! – diz-lhe o avô.
Mas o neto deixa que o pião lhe escape das mãos, desenrolando vagarosamente o cordel, como leve novelo caindo ao chão. Isto exaspera o avô, que logo barafusta:
- Não é assim, meu caralho!... Meu “estapor”! “Num” foi assim que “ t’insinei”!.
Se a habilidade do netito era pouca, a partir daí, mais ele ficou atrapalhado e foi com algum receio que viu o avô a aproximar-se de si...
E novamente o avô enrolou a baraça no pião e o passou para a mão do pequenito, dizendo:
- Agora, se não jogas bem, levas-me duas bofetadas nessas fuças. Ora vamos lá!...
E após nova tentativa, outra vez o pião se desenrola cordel abaixo. E tão depressa isto acontece como o puto logo foge a sete pés, escapulindo-se antes que o avô cumpra a ameaça de há instantes e de quem já não consegue ouvir o que ele, aos berros, desabafa:
- Num prestas pra nada, meu burro! Nunca mais aprendes a jogar...
E a este netito, se o pião já nada lhe dizia, daí para diante nunca mais nada significou.
O avô, então, recolhendo-o do chão, tentou ainda, sozinho, mais um jogo. Mas descobre-me a apreciá-lo. Num ápice, com a velocidade do netito que há instantes lhe fugira para mais não ser visto, também o avô se esgueirou para dentro de casa.
Terminou o espectáculo que eu vinha apreciando. E de todos os intervenientes nele, quem mais pena me despertou, porque foi o que mais feliz se sentiu e o que mais sofreu – o avô. Feliz porque se sentiu remoçar com o pião nas suas mãos. E contente por se saber “professor”, na arte do pião, de uma criança de seis anos.
Todavia, fui eu quem mais sofreu, por ter sido testemunha, impotente e muda, de que foi precisamente por causa da pouca habilidade do avô em lidar com o seu netinho que este nunca mais na vida iria sentir o desejo e o gosto de jogar o pião.
Hoje, em recreio de escola nenhuma se ouve já o zumbir do pião, levezinho e suave como pena, ou o zungar, de vespa, do pião-bico-de-lançadeira que era o terror da miudagem.
Cada outro pião que deste apanhasse um arremesso em cheio, logo ficava em lascas ou, na melhor das situações, rachado em dois; e o dono do pião rachado, em lágrimas desfeito, a casa regressava só com o cordel de zorro e o pião em fanicos.
Nesse tempo, o pouco, era muito. E, à noite, depois da reza do terço e da bênção do pai e da mãe, íamos para a cama. Felizes.

José Pedro Marques



 O ANDARILHO SOLITÁRIO

Terça-feira, 1987.05.19

Caminha estrada acima. Devagar. De semblante abatido. Hesitante. Descoroçoado. Olhando constantemente para trás e com os olhos seguindo os carros até desaparecerem na curva acima.
Atrás dele uns metros, e observando-o, outro caminhante seguia na estrada.
Aquele teria uns catorze anos. Magro mas já com a estatura de um homem. Rapilhando sapatilhas gastas. Ao ombro, pequena sacola.
Àquela hora, era estranha a sua passagem. E até um pouco suspeita. Não porque ele inspirasse desconfiança; isso apenas porque a sua fisionomia denunciava que alguma coisa lhe havia corrido menos bem na manhã.
Aqueloutro, acelerando o passo e junto dele já, perguntou-lhe:
- Estás doente?...
- Não, senhor – respondeu
- Já vens, então, do trabalho?...
Um suspiro fundo, foi a resposta a tão inquietante pergunta que o deixou confuso e de voz apertada na garganta. E só o seu orgulho de homem lançado à vida antes do tempo o impediu de chorar. Mas notou-se bem nos olhos o brilho húmido das lágrimas.
Sem mais diálogo, foram ambos estrada acima. Ele rapilhando as sapatilhas gastas e já sem olhar para os carros, o que até então vinha fazendo se calhar na esperança de uma boleia que lhe poupasse a fadiga da caminhada que deveria ser longa ainda.
Não foi difícil concluir, ao segundo caminhante, que a este moço, logo de manhã, algo tinha corrido mal no seu emprego. De certeza, de trolha ou de pedreiro, a avaliar pela roupa que vestia. O patrão deve tê-lo mandado embora. Por quê?...
E o segundo viandante quedou-se a vê-lo caminhar estrada acima, até ele desaparecer na primeira curva. Vergado sob o peso que lhe esmagava a alma, o da sacola era insignificante , pois, nesta, apenas ia o peso do magro almoço preparado pela mãe antes da ida para o emprego. E que à mãe iria restituir logo que a casa chegasse. Agora, já a sacola pesava bem mais - o peso da sua amargura.
À mesa, a este segundo viandante deixou de ter sabor o almoço posto na mesa lavada e alegre: no prato, não era a refeição que via: era a amargura daquele rapaz, que ainda não iria longe. Deu-lhe um nó a garganta. E dessa refeição, nela a comida não passou.

José Pedro Marques


A mão

Com minha mão escrevo um texto, que meu cérebro se deliciou em pensar, em todas as formas possíveis de extravasar sentimentos.
Ponho no papel o fruto do viver, muitas vezes, intensamente o meu sentir. Só o sentir não basta, tenho que transmitir também!
Na infância meus amigos eram os livros, e procuro fabricar amigos, como os que tive, a todos! Meus personagens fazem parte do meu mundo, se é real ou ilusório, que importância faz? Tudo faz parte de mim!
Foi escrevendo que aprendi a me humanizar, e foi sendo mais eu que sou feliz!
Quando eu conto uma estória procuro transmitir um ensinamento, dar uma razão, que para mim sempre é transmitir, e para os que me leem é pensar e sentir.
Vou assim fabricando um castelo de sonhos!
Para que?
Para um dia ali morar!

Francisco Mellão Laraya


Ardente espera

Magna chega do trabalho cansada. Seus olhos tristes percorrem a praia deserta. O céu de cor plúmbea denuncia uma tempestade que se avizinha. As recordações tomam conta da sua mente. Fora ali, naquela aldeia de pescadores que ela havia sido feliz com o Marcos, um jovem sonhador que vivia de pintar os mais variados temas em seus quadros e viveu também para amá-la loucamente, mas que um dia saíra de sua vida sem nenhuma explicação, sem sequer dizer-lhe um adeus, mas que desde então ela continuava a espera-lo, pois algo lhe dizia que ele ainda voltaria.
Nessa noite, a chuva que desaba cai como uma densa cortina entre ela e o passado. A chuva bate forte contra a vidraça trazendo-a de volta a realidade, inspirando-a para mais um ritual de amor, algo que a deixa entre a realidade e o sonho. Lentamente, diante do espelho ela começa a se despir, os seus olhos entristecidos observa a figura refletida no espelho e nesse momento cenas do passado lhe voltam à mente e como num passe de mágica ela vê o Marcos a despindo lentamente sempre admirando e amando cada parte do seu corpo e foram em muitos desses momentos que eles terminaram por fazer amor debaixo do chuveiro ou mesmo na banheira. Um tremor percorre todo o seu corpo e ela sabe que não é de frio é o desejo fremindo dentro dela. Sem pressa se dirige ao banheiro sente que precisa de um banho de imersão. Deslizando sensualmente por entre as espumas, ela mais uma vez se pega ensaiando os ritos do prazer e assim, ainda coberta de espumas se dirige para o quarto e a cama parece convidá-la e entorpecida pelas suas fantasias eróticas, ela vê Marcos se aproximando, seus olhares se cruzam e ela sabe o que está por vir. E entre sussurros e gemidos sente o deslizar lascivo das mãos dele por todo seu corpo, suas entranhas parecem em chamas, os toques dele parece levá-la a loucura, mas nesse momento descobre que mais uma vez estivera a sonhar acordada. E com o rosto banhado em lágrimas e o corpo molhado de suor que ela se levanta e se dirige à janela. Vê a chuva que continua a cair e pensa no Marcos, as lembranças voltam a possuí-la, havia sido numa noite chuvosa como aquela que se conheceram, e viveram felizes até aquela tarde quando ela voltara do trabalho e não o encontrara, apenas seus quadros repousavam num canto e talvez por isso ela acreditava que ele ainda voltaria. Sai da janela e o barulho da chuva parece ferir sua alma, sem pensar, abre a porta e sai para a chuva, mas a água que escorre pelo seu corpo não aplaca a chama que lhe devora a alma. Caminha sem rumo, a praia é deserta, os pescadores moram um pouco distante dali. Nesse momento percebe alguém se dirigindo para ela, apesar da escuridão ser intensa, ela mais sente do que vê o vulto e sem querer acreditar, pensando ser um momento de desvario vê Marcos se aproximando. Sim, ele voltara afinal, não era sonho. Ele nada fala apenas a toca e as suas mãos deslizam pelo corpo dela, o beijo possessivo a faz entregar-se trêmula de paixão. Marcos a deita na areia e entre carícias e gemidos, com a sua língua sedenta vai deixando um rastro de fogo por todo aquele corpo já tão incendiado pelo desejo e o seu gozo é um grito de liberdade dos seus cinco sentidos que ecoa livremente pelo espaço rasgando o silencio da noite já rompido pelo temporal. Nada a perguntar, que fosse eterno aquele momento enquanto o destino assim quisesse.

Gil Ordonio



Conto ao Luar

Um dia o sol ficou a ficar triste…estava muito sozinho
e quando viu uma foto da lua, que caíra de uma nave,

ficou logo apaixonado por ela…
Quis aproximar-se dela mas ela fugia sempre…
Mas o sol insistiu e resolveu marcar um encontro com ela.
Nessa noite, o Universo ficou às escuras, enquanto os dois namoravam,
estavam encantados um com o outro…
No segundo encontro, amaram-se muito e a lua ficou em
estado de graças, grávida…
Começou a ficar toda redondinha, até tinha os pés inchados…
Passados alguns meses, nasceram cem estrelas…
Eram lindas! Muito sorridentes e brilhantes, parecidas com os pais.
Cada uma ficou com um nome e o sol beijou-as com muito amor
e deixou- as com a mãe, que tratou delas com muito carinho e cuidados.
Todos os seres do Universo reclamavam pela falta de luz e já havia muitos estragos.
O sol ficou triste mas lá voltou para o seu lugar para dar luz e alegria para todos.
Nos dias que não se vê o sol…há quem diga que é o sol que sente saudades
da sua amada lua e das suas meninas porque são a sua riqueza mais preciosa
que tem no seu coração…
Por isso, é que o sol ao brilhar todos os dias está a sorrir para todos e quer que sejas feliz!
Moral da história: Todos precisam de amor para serem felizes!

Bernardina Pinto
24 de Julho de 2013




 A lenda!

 Uma lenda muito antiga nos conta que a lua e o mar
 um dia se apaixonaram com um simples olhar..

 A lua triste por não o poder abraçar, deixou uma lágrima cair...
 isso fez o mar subir, e lutar desesperado,
 por um toque molhado da sua amada lua..

 Despiu-a com o vento, que sopra da sua boca quente...
 Sim! porque o mar, tem boca como a gente...
 E as ondas a espumar de tristeza, por não poder tocar tanta beleza,
 agitaram o fogo da lua...
 Em forma de mulher nua e sozinha ela luta por seu amor consumar...
 sonha em fazer amor e mergulha no mar!

 Enlaça suas pernas, na cintura das pedras que o mar tem preso ao seu corpo...
 rebola pela as areias, sente o fogo nas veias...
 Já dentro dela... como uma áurea amarela...
 de desejo a brotar, ouvem-se gemidos do mar.
 E já coberto de sal, tocado pela sedução, o mar acorda, cheio de paixão...

 E a dor da separação, fez-se brilhar de tanta emoção!
 Entre o mar e a lua... a triste realidade, que nem de saudade os dois podem viver,
 limitam-se a sofrer... apenas se podem olhar e sonhar.
 Triste sina tem a lua e o mar...

 Desde então as ondas batem desnorteadas à procura do sentimento,
 e a lua para disfarçar a dor, quebrou-se em quatro de tanto lamento...
 Diz-se que Em noites de lua cheia, se consuma o encontro,
 e os dois se olham e sonham um com o outro!

 Acredita-se que o amor um dia entre em sintonia com o mundo
 e quebre essa maldição, tornando possível essa união,
 para que o mar possa amar o luar, e os dois tenham um só coração!
 Essa é a lenda da sinfonia do mar...
 Para quem quiser acreditar!

 Celeste Seabra
24.07.2013



"Um verdadeiro amor..."

 Numa grande cidade vivia uma pobre jovem ; cega de nascença a qual ,para sobreviver aprendera a tocar acordeão . Andava de rua em rua a tocar para os transeuntes , de forma a obter alguns tostões !!!...
 Certo dia , nas suas deambulações pela cidade , um jovem entrou em contacto com ela e ofereceu-lhe apoio e companhia .
 O jovem era cauteleiro e distribuía em simultâneo jornais e revistas .
 Ela aceitou a oferta ; começaram a andar juntos diariamente e aos poucos foram ficando apaixonados . Passado algum tempo , casaram e foram viver para uma humilde casinha , situada num bairro social na periferia da cidade .
 A vida decorria normalmente e a felicidade , parecia ter encontrado nos dois jovens um lugar para se instalar .
 Porém o jovem omitira-lhe , que também era cego duma vista !!!...
 Ele sempre dispensara á sua amada os maiores elogios á sua beleza ; lhe explicara as maravilhas do mundo ; tendo conseguido ao longo do tempo descrever-lhe todos os pormenores , que ela estava impossibilitada de poder observar . O amor existente naquele casal , atingira toda a sua plenitude e em conjunto , ambos conseguiam ultrapassar os muitos problemas , que a qualquer um de nós se deparam ao longo da vida . O amor vivido pelos dois , era intenso e belo , causador da admiração e até inveja , a todos que os conheciam ou privavam com aquele casal de jovens amorosos e apaixonados !!!...
 Uma manhã quando circulavam junto ao Hospital Central , um oftalmologista de renome mundial , passou junto deles , apercebeu-se do problema da jovem e pediu-lhe para a observar .
 O especialista chamou os jovens e disse-lhe : "...a esposa voltaria a ver , se efectuasse um transplante , sendo necessário obter pelo menos um olho dum dador..."
 O jovem , falou com o médico , pediu-lhe o maior sigilo e ofereceu o seu único olho , para o transplante necessário á operação da esposa .
 O jovem guardou o segredo para si e o transplante foi realizado com êxito, ficando a esposa possuidora de visão e o marido a sofrer de cegueira total .
 A jovem , ignorando o sucedido exultava de alegria , mas começou a a estranhar , que o esposo usasse sempre óculos escuros .
 Um dia , não se conteve e perguntou-lhe o porquê e ele respondeu-lhe , que o sol e a claridade o incomodava e por isso usava sempre óculos escuros .
 Porém um dia , quando atravessavam uma passadeira , um carro atropelou o jovem que foi conduzido ao Hospital em estado grave e foi então aí , que a esposa descobriu o segredo do seu amado .
 O acidente , exigia uma intervenção de alto risco e o jovem não sobreviveu á operação .Ela por sua vez, não resistiu ao desgosto sofrido e passados poucos dias partiu para junto do seu amado !!!...
 Nas noites de luar , no silencio e páz da terra onde repousam os corpos dos dois jovens , um casal de rouxinóis vem cantar as suas melodias sobre as duas campas , e a Mãe Natureza mantem-as sempre floridas , para todos saberem , que ali repousam dois seres , cujo Amor atingiu na terra toda a sua plenitude e juntos os uniu para a Eternidade !!!...

António J. A. Cláudio
25.07.2013


A amante

Tantos anos depois, ao pensamento lhe veio um episódio, que o deixou muito pensativo.
Foi num dos meses de férias à beira-mar. Então, pelas ruas da vila, de intenso cheiro a maresia do sargaço e do peixe fresquinho, apanhado nas redes que os bois puxavam praia acima, era bonito verem-se as peixeiras de saia de roda arregaçada na cinta e presa por uma espécie de rodilha grande. Na cabeça, a canastra, em forma de berço, do peixe a vender-se de porta em porta. 
Com o vento que puxava do poente, o murmúrio das ondas a rebentar na areia, penetrava também pela vila dentro; e deste murmúrio, de onde em onde, a voz de falsete da peixeira: ai que bibinha! Ó freguês! Ai que bibinha!... E gingando as ancas em jeito de valsa, era interessante ver estas mulheres, de braços robustos e pernas roliças. À mistura com este pregão, altifalantes iam transmitindo a canção poveira de “ O Mar enrola na areia/ninguém sabe o que ele diz/ Bate na areia desmaia/porque se sente feliz.
Ao pregão da sardinheira, um outro se juntava de outras mulheres, a vender pó de pedra, apanhada nos labristas e nas pedreiras. Esse pó, como cinza, era maravilhoso para limpar o surrasco das panelas e tachos que ficavam, depois, a luzir como prata. Estava-se ainda um pouco longe dos fogões a gás e eléctricos. Eram as lareiras, fogões a lenha e máquinas de petróleo que funcionavam. E os trens dos fogões acumulavam negro de fumo. Era uma limpeza, com este pó de pedra. E muita mulher e rapariga a vendê-lo andava, de porta em porta, como a sardinheira.
Era domingo. E na casa onde estavam, onde havia hóspedes nos quartos alugados, vivia uma mulher - que valente e bela mulher!... Um traço! Filha dos donos. Nesta casa, a “ de banho” era comum a todos que dela se serviam à vez. E quando chegou a vez dele, não pôde ser: Nele, com a porta meia aberta, estava ainda a mulher filha da casa, vagarosa e voluptuosamente se olhando no espelho e para ele sorrindo, penteando os seus compridos e negros cabelos, abandonados pelos ombros abaixo como os de Madalena. Passava e repassava neles o pente...a espaços interrompendo esta operação... e novamente se remirava no espelho... e de novo sorria... e de novo se penteava…
Vista assim, com a blusa um pouco mais desapertada, deixando ver o início das formas de uns belos e robustos seios, no seu rosto havia um rubor de ansiedade, prenúncio de desejos que a satisfariam imensamente. E no espelho, ela antevia-se nesses momentos de êxtase, de um amor tanto mais saboroso quanto mais proibido, soube-o ele, dali a instantes.
Como a mulher se demorasse nesta contemplação de si própria, o relógio parou nas horas. E foi a mãe, quarentona, então a arrancá-la da contemplação de si própria; afinal, a ver-se como apareceria diante dele...
Fomos à janela e casualmente, pela rua adiante, ainda cheiinha de sabor a maresia, vagaroso, vinha um homem, também aí dos seus quarenta anos. Nos lábios, simulava um espécie de assobio. Nas mãos, a tilintar, trazia as chaves do seu automóvel e outras. Este homem, em fato normal, despido dos seus hábitos de sacerdote, era o padre que celebrara a missa onde havíamos ido de manhã.
Bateu à porta e diz a mãe, para a mulher, sua filha:
- É ele…
E ela desceu, devagar, as escadas de madeira que da casa davam para a rua estreitinha paralela ao mar e do outro lado da avenida dos banhos. Abriu-lhe a porta e diante dele sorriu e se mostrou assim de cabelos soltos, compridos, muito lisos do penteado…
O êxtase tão ansiado, viria a seguir noutro local, com ela desmaiada nos braços dele. Cá fora as cantadeiras do rancho continuavam: o mar enrola na areia/ninguém sabe o que ele diz/ bate na areia desmaia/ porque se sente feliz. E os dois de certeza que também se sentiram felizes.

José Pedro Marques
VIZELA, 1997.09.19



Amor incondicional

 A noite estava gelada. A neve caia . Mas Rafaela permanecia ali à espera que ele chegasse. Tinha no entanto suas dúvidas...pois Paulo sempre fora teimoso ...e ao telefone tinha garantido não ir ao seu encontro.
 Mas par ela, ainda que um simples laivo de fé existisse era o suficiente para que não desistisse.
 Tinha fé nela e nas pessoas. Era algo intrínseco ao seu ser.
 Via passar os minutos, depois as horas. sentia-se gelada. As mãos dormentes.
 Viu as horas no visor do telemóvel e decidiu desistir.
 voltou para casa onde acendeu a lareira e se sentou. Enrolada numa manta vendo as chamas do fogo e o estalar dos toros de madeira sentiu-se sonolenta.
 Viu o rosto dele desenhar-se nas labaredas . Tão doce e luminoso...agora, agora a luz que lhe banhava o semblante fora substituído por rugas de amargura.
 viveram os momentos mais felizes que alguém pode sonhar. Viveram dois anos de magia e encanto onde tudo era perfeito.
 Amavam-se.
 Uma noite Paulo saiu para comprar tabaco.
 Ela ficou em casa terminando o jantar especial. Era dia dos namorados. Preparou uma refeição especial. Pôs a mesa a rigor. Usou velas e flores.
 O cheiro a incenso invadia a casa.
 Ele demorava.
 Ela começou a ficar preocupada. Ligou-lhe várias vezes, mas ele não atendia.
 Ficou nervosa. Pressentiu que algo negativo tinha acontecido. O coração disparava de medo.
 Deambulou um pouco pela casa.
 Estava prestes a ligar para os hospitais quando seu telefone tocou.
 Sua amiga Julia disse que Paulo tivera um acidente. Foi atropelado, estava no hospital.
 Correu para lá em ondas de pânico.
 Esperou na sala apinhada do hospital com a amiga, noticias sobre o estado do namorado.
 Depois de duas horas viram um médico que lhes fez sinal.
 Este informou-as que o paciente não sofria risco de vida, mas que a coluna fora afetada não se sabendo de momento se as funções motoras ficariam afetadas.
 Nesse momento perdeu o chão.
 Os dias passaram e a nuvem escura pairou sobre sua vida. Paulo perdera o andar.
 recusava-se a ter visitas, recusava viver. Mas ela tratou-o com paciência e carinho. Nunca mostrou pena ou algo parecido.
 Aceitava-o como estava.
 Começou um doloroso processo de aceitação para ele. Consultas de psicologia, fisioterapia...
 Acompanhava-o em tudo com palavras de esperança e alento.
 Mas ele decidiu afastar-se dela. Afirmou não querer ser um fardo para ninguém. Ela opõs-se. Amava-o. Nada mudara em relação a isso.
 Mas a decisão dele foi decisiva.
 Passados seis anos ela decidiu procurá-lo, pois esperara por ele.
 Paulo dependia duma cadeira de rodas, mas trabalhava e era autónomo.
 Nestes seis anos poucas foram as vezes que Rafaela teve contato com ele.
 Agora tivera esperança que a dor e a raiva dele, tivessem amainado e ele compreendesse que não era um fardo.
 Iludiu-se. Ele carregava consigo um estigma que o alimentava.
 por muita fé que possuísse chegara nessa noite à conclusão que teria de desistir. Conheçia-o.
 Marcara o encontro numa noite com neve, porque se conheceram numa noite assim.
 A esperança dilui-se.
 teria de refazer sua vida. Era nova.
 O Lume na lareira esmorecia. Levantou-se olhou as estrelas e suspirou.
 A vida continuava, apesar de tudo.

 Pétala Maria




Um Conto ao Luar

 Mesmo a seu lado...
 Tinha encontro marcado. Ansioso esperava por aquela que há tanto desejava.
  Olhava para todos os lados para ver se a via aparecer... e se algo fazia acontecer.
  Porém, as horas iam passando... desesperado um cigarro acendia...
  Naquela Avenida de grandes palmeiras mas de pessoas vazia...
  O luar a iluminava mas ele não a via...
  Alguém se aproximou, perguntando as horas, mas não era quem queria...
  Respondendo pensou... como a noite já ia tardia.
  Atravessou a Avenida... do outro lado um jardim existia,
  Num banco se sentou, quem mais amava não aparecia!
  Porque não apareces minha flor?
  A mais bela de todo este jardim florido...
  De cores e aromas preenchido...
  Com o teu perfume único, que me entontece...
  E, nisto adormece...
  Amanheceu... ao acordar a seu lado encontrou...
  Aquela com quem sonhou... e a ela se abraçou!

 Ilda Ruivo
 2013-07-27




Um cão e um coelho

 Eram dois vizinhos. Um deles comprou um coelho para os filhos. Os filhos do outro vizinho também quiseram um animal de estimação. E os pais desta família compraram um filhote de pastor alemão. Então começa uma conversa entre os dois vizinhos: - Ele vai comer o meu coelho! - De jeito nenhum. O meu pastor é filhote. Vão crescer juntos e 'pegar' amizade!!! E, parece que o dono do cão tinha razão. Juntos cresceram e se tornaram amigos.Era normal ver o coelho no quintal do cachorro e vice-versa. As crianças, felizes com os dois animais.Eis que o dono do coelho foi viajar no fim de semana com a família. E não levaram o coelho. No domingo, à tarde, o dono do cachorro e a família tomavam um lanche tranquilamente, quando, de repente, entra o pastor alemão com o coelho entre os dentes, imundo, sujo de terra e morto. O cão levou uma tremenda surra! Quase mataram o cachorro de tanto agredi-lo. Dizia o homem: - O vizinho estava certo. Só podia dar nisso! Mais algumas horas e os vizinhos iam chegar. E agora?! Todos se olhavam. O cachorro, coitado, chorando lá fora, lambendo os seus ferimentos. - Já pensaram como vão ficar as crianças? Não se sabe exatamente quem teve a idéia, mas parecia infalível: - Vamos lavar o coelho, deixá-lo limpinho, depois a gente seca com o secador e o colocamos na sua casinha. E assim fizeram. Até perfume colocaram no animalzinho. Ficou lindo. Parecia vivo, diziam as crianças. Logo depois ouvem os vizinhos chegarem. Notam os gritos das crianças.- Descobriram!Não passaram cinco minutos e o dono do coelho veio bater à porta, assustado. Parecia que tinha visto um fantasma. - O que foi?! Que cara é essa?- O coelho, o coelho... - O que tem o coelho?- Morreu!- Morreu? Ainda hoje à tarde parecia tão bem. - Morreu na sexta-feira!- Na sexta?!- Foi. Antes de viajarmos, as crianças o enterraram no fundo do quintal e agora ele reapareceu! A história termina aqui. O que aconteceu depois fica para a imaginação de cada um de nós. Mas o grande personagem desta história, sem dúvida alguma, é o cachorro. Imagine o coitado, desde sexta-feira procurando em vão pelo seu amigo de infância. Depois de muito farejar, descobre seu amigo coelho morto e enterrado. O que faz ele? Provavelmente com o coração partido, desenterra o amigo e vai mostrar para seus donos, imaginando que o fizessem ressuscitar. E o ser humano continua julgando os outros... A outra lição que podemos tirar desta história é que o homem tem a tendência de julgar os fatos sem antes verificar o que de fato aconteceu. Quantas vezes tiramos conclusões erradas das situações e nos achamos donos da verdade? Histórias como essa, são para pensarmos bem nas atitudes que tomamos. Às vezes, fazemos o mesmo...'A vida tem quatro sentidos: amar, sofrer, lutar e vencer. Então: AME muito, SOFRA pouco, LUTE bastante e VENÇA sempre !

 29-07-2013
Rosangela Ferris




Um dia com a minha neta ...

 Como habitualmente , levantei-me cedinho e com as pernas "preguiçosas" recusando-se a andar dado o desgaste pelos muitos anos das suas caminhadas por este mundo , dirigi-me a casa de meu filho , para saber notícias sobre a saúde de minha neta de 8 anos , que estava na cama doente com uma ligeira gripe .
 Minha nora , tinha marcado uma entrevista para a eventual obtenção dum emprego e meu filho fora cumprir o seu horário de trabalho na empresa onde exercia o seu labor. Depois de falar á minha neta e saber do seu estado de saúde , fiquei a cuidar dela até regresso dos pais .
 Ela estava jogando com um moderno aparelho electrónico ligado ao ecrã da televisão , mas que para mim era confuso e nada entendia do seu funcionamento ; fiquei a alhar curioso , para a facilidade que ela manejava o aparelho .
 A determinada altura não resisti á minha curiosidade e quis saber como funcionava o aparelho e como se jogava .
 Minha neta , como uma verdadeira perita fez de professora e deu-me uma lição sobre as novas tecnologias e eu fiquei com uma noção sobre o funcionamento daquele (para mim) confuso brinquedo , que embora soubesse que existia qualquer "coisa" assim , nunca tivera oportunidade de ver funcionar e muito menos o saber da forma como era utilizado. De seguida tive uma interessante conversa com ela , que por sua vez teve curiosidade de saber , como na minha meninice brincavam as crianças , pois nessa época estávamos muito longe do avanço da ciência e do progresso actual .
 Fiz um resumo de como se vivia naquela recuada época , das dificuldades existentes ; do analfabetismo existente na maioria das pessoas ; na falta de cuidados médicos ; hábitos e recursos alimentares ; falta de condições de conforto e higiene e muito mais "coisas" , que ela hoje não poderia sequer imaginar , mas que certamente lhes seriam úteis de saber , para melhor ir conhecendo a vida .
 As horas iam avançando e a nossa interessante conversa , parecia não ter fim , tal o interesse da minha neta em saber o mais possível sobre o passado ; algumas delas certamente lhe ficariam retidas na memória e contribuiriam para servirem de alicerce para utilizar no futuro , dado que o futuro só se pode e deve construir , tomando por base o conhecimento do passado .
 A certa altura minha neta , fez a seguinte observação : "...Avô !!!...desculpa , mas eu não imaginava , que tu soubesses tantas coisas !!!...eu nunca vou saber tanto como tu !!!..." , respondi : "...estás enganada minha neta , os anos que já tenho e a experiência da vida adquirida ao longo do tempo , fizeram-me conhecer um pedaço do passdo , mas tu , quando chegares á minha idade , terás uma experiência de vida tão grande ou maior que a minha , só que será numa época diferente , como aliás foram
 aquelas , que antecederam a vivida por mim ...!!! " Ela de olhitos muito abertos ouviu a minha argumentação e disse-me : "...Avô !!!...nunca tinha pensado nisso , mas gostaria de te ter sempre ao pé de mim , para me ajudares a tirar dúvidas e com a tua longa experiência de vida , me ajudares a enfrentar o futuro ...!!!" .
 Chegou a hora de preparar e levar o lanche á minha nétinha , missão que cumpri com o maior prazer , pois além do amor que tinha por ela , tinha ali um pedaço das minhas
 raízes , que teriam certamente continuidade em futuras gerações , ás quais o meu sangue continuaria ligado por laços , que jamais se iriam quebrar .
 Os pais regressram e eu despedi.me daquele pedaço de mim , que me liga a este mundo e ao ente querido sangue do meu sangue .
 E assim passei um dia maravilhoso na companhia da minha neta querida .

 NOTA: Dedicado a todos os AVÓS do mundo !!!...

 António J. A. Cláudio


 
Sonhos e promonições

 Ana sempre fora uma mulher ligada ao mundo místico. Desde menina que tinha pressentimentos e visões. Ficava muitas vezes assustada ao constatar que seus mais terríveis sonhos se viriam a realizar.
 Ansiava que tudo aquilo terminasse. A tia com quem vivia e fora criada, afirmava que ela desenvolvera o dom de mediunidade da avó paterna. Afagava-lhe os caracóis escuros e dizia-lhe que se deveria sentir grata. Poderia usar isso em favor dos sofridos e carentes.
 Ana cresceu entre nuvens de incenso, velas acesas e orações que se estendiam pela noite adentro.
 Havia um sonho recorrente que a deixava intrigada. Via uma luz amarela num circulo; no centro um pequeno baú de cor negra.
 A luz desaparecia cedendo lugar a um som de árvores sacudidas por rajadas de vento forte.
 Rezava junto do altar em seu quarto. Ficava horas a fio murmurando ladaínhas , até que o sono lhe tomasse o corpo.
 As poucas amigas que possuía visitavam-na ocasionalmente, uma vez que o bosque onde vivia ficava a alguns quilómetros da Vila. Persuadiam-na a sair, a ir dançar com elas à discoteca que abrira recentemente.
 Mas, Ana declinava o convite com simpatia.
 Tomavam chá de ervas na cozinha e conversavam sobre tudo e nada.
 Um dia bateram à porta. O vento chicoteava nas janelas e a chuva caía em bátegas fortes.
 Abriu a porta e um rapaz alto de olhos negros entrou a seu convite. Parecia perdido, confuso...o olhar oscilava entre o ausente e o penetrante. Disse precisar de ajuda.
 Ela levou-o para a sala aquecida por um fogo crepitante na lareira. Acendeu uma vela. Sentaram-se junto fogo que lançava enormes línguas de fogo.
 O rapaz contou-lhe com a voz trémula e fraca que andava a ter sonhos estranhos. Todos os dias. Sempre. Aquele baú escuro que uma mulher carregava numa mão pálida.
 Uma mulher com cabelos longos, ornados de caracóis...pele branca e sedosa como leite.
 Ana sentiu um arrepio. Fechou os olhos. Viu o baú com uma nitidez avassaladora.
 Uma onda de reconhecimento invadiu seu espírito.
 E subitamente começou a falar numa voz que desconhecia.
 o rapaz ouvia ,enquanto seu espírito era conduzido a uma clareira na floresta.
 A mulher entregava-lhe o pequeno baú, enquanto seu cabelo esvoaçava como asas de corvos. Ele aceitava de olhar perdido confuso.
 Até que se ouviu a voz dela, quebrando o silêncio.
« Tudo isto te pertence. Há séculos que te procuro. Não teria descanso enquanto não te devolvesse o que meus antepassados te retiraram. Minha missão está cumprida. Vou, parto para a luz que me espera. Paz . »
Abriram os dois os olhos e ambos permitiam que as lágrimas lhe lavassem o rosto e a alma. Ambos viram naquele baú as jóias que seus antepassados haviam perdido para uma família malvada. Pérolas, diamantes, ouro e prata...e mais que tudo, a justiça.
 Ana reconheceu o primo que não via desde a infância. Abraçaram-se comovidos.
 O sonho recorrente de ambos tinha o mesmo significado.
 Sob o aroma a incenso e os estalidos do fogo, fizeram uma oração por seus antepassados. Sabia que estariam em paz, agora que o tesouro voltara à família.
 E rezaram pela mulher que restituíra essa paz. Para que tivesse finalmente paz, no reino da luz.
 A trovoada ribombava lá fora.
 Ana espreitou pela janela embaciada.
 Nada disse, mas ainda não entendera a razão daquela mulher possuir tantas semelhanças físicas consigo.
 Respirou fundo. Um enigma pairava no ar.
 Voltou para junto do primo e beberam chá .

 Pétala Maria



MEIA DUZIA

Passeava eu por aquela cidadezinha tão pequena, 
ao olhar assim de rabo de olho, se parecia mais
com uma arena.
Um povo pacato, meia dúzia de mercado uma
igreja de lá outra igreja de cá, onde se podia notar
ali uma disputa de religião como sempre, entre as;
mais de 4.200 religiões naquele lugarejo 
encontrava-se duas delas.
Era um dia de sábado, e em lugar assim nesse dia
há um certo alvoroço, ainda estava longe da hora
do almoço, e existia varias pessoas fazendo compras para passar ah semana.
Dei poucos passos do lugar que me encontrava e
logo notei que encontrei uma pequena praça, com
meia dúzia de bancos aparentemente vazios e
algumas variedade de flores dando aparências de
um pequeno jardim.
Pois bem do outro lado da praça eu vi, um outro
banco e daquela espécie era o único do lugar, pois
esse era banco de guardar din, din. Bom ali se encontrava um único caixa eletrônico aonde as
pessoas adentravam e saiam, uns alegres e outros tristes, da mesma maneira que se leva a vida, pois
imagine; se nem Deus consegue agradar o todos;
que de lá um banco. Ali também entrando e saindo
eu pude notar, pessoas de todo tipo; uns casais de namorados outros casais com filhos a tiracolos,
uns bem apressados e outros lento com muita
calma, e assim por diante.
Olhando de novo nos bancos da praça, agora com
mais dedicação, por cima daquele encostador de costas, eu pude ver uma cabeça de alguém.
Olhei firme e vi sim, que era uma cabeça idosa de
um ser, humano dotado de conhecimento, pôde deduzir por notar que não se tratava de ébrio ou
coisa parecida. Estava sentado no paralelepípedo
encostado ao bando à vontade como-se fosse para
evitar ah fadiga.
Também pude ver que era dono de sua sã consciência.
Fui ter com ele, e assim que lá cheguei saldei com
uma; bom dia senhor?
_ Bom dia cavalheiro em que posso ser útil?
Estou apenas de passagens, te vi aqui em certa
posição diferente então resolvi dialogar um pouco
se possível é claro; como esta o senhor?
_  Apesar de cansado pelo peso da idade, e já chegando ao fim da minha viagem, estou bem cavalheiro, e ah vossa excelência como esta?
Bom, calculo que ainda tenho uma longa viagem
pela frente apesar de nunca saber, mas no
momento estou ótimo! Vi o senhor sentado ai assim
fiquei um tanto curioso.
_ É que nessa altura da vida nos sentimos um pouco cansado sem nada fazer, e como um presente
carregamos sempre fadiga, então para melhor me sentir eu me assentei aqui no chão, já que essa pequena praça esta um tanto deserta.
_ Bom eu pude notar que ele, não só gostava de falar,
mas fluía bem as palavras e ah direção de seu
linguajar, então lhes dirigi a interrogação: de onde
o senhor é?..._ Bom meu cavalheiro; na verdade sou desse planeta nasci nessa terra de ninguém aonde se luta muito e passam o tempo correndo, e nunca se chega a nada, e quando chega terá que ir, e tudo fica por aqui quando se vai. Até se esquecem e vivem camuflados em seus desesperos.
Sou dessa esfera que Deus fez como todas as outras,
mas ah essa ele deu vida, e ficou observando por
muito e muito tempo, e ai então resolveu colocar
nela uma certa dose de amor.
Ao se concretizar essa decisão, deu inicio aos seus gostos, começando por fazer um jardim. O jardim
mais lindo de todo universo; repleto de verde e
frutos, flores de todas espécie e de todas as cores.
Estava tudo muito lindo, mas ainda não se contentou.
Observando viu que precisava de amor, resolveu
então optar por mim e por você, esse ser que
chamam de humanos, tal qual a sua semelhança e
para que esses seres representassem o amor e a paz aqui nessa esfera a qual ele deu o nome de planeta
terra. A mesma que ele coloriu na cor azul do céu
Ao acabar a sua mais bela criação não se conteve
em seu contentamento, colocou-os em seu mais
belo jardim. E cheio de felicidade fez um único
pedido: não tocar no fruto do amor.
Deus se soube fez que não soubesse que a sua mais nova criação seria a ultima, pois essa lhes desobedeceria causando-lhes desprezo e tomando as rédeas dos eventos.
_ Mas que coisa em, meu senhor, a própria criação
de Deus, lhes pagou com traição.
_ É meu cavalheiro, ele ate tentou um concerto mandando o seu único filho, mas ai deu no que deu,
e foi decepcionado mais uma vez.
_ Falando assim eu pude notar que o meu senhor finalizava a conversa, e absolto em meus pensamentos eu fiquei analisando em tantas coisas erradas feitas pela raça humana; quando pude notar ali ah poucos metros de mim, como levado pelo encanto em um outro banco, Uma bela mulher, vindo nem sei de
onde, com um olhar cativante, e em sorriso, já piscava um olho para mim. Aquilo me chamou atenção, olhei
para o meu senhor, esse já se encontrava sonolento
dei um tchau! E fui me ater com ela, se bem que
agora a conversa era outra e eu prefiro não falar.

A. Montes 24/07/13

A Ciganita

Fora num domingo de tarde; numa tarde calorenta e convidativa à procura de sombras e de frescas e da água também. E quando não se tem mar perto, a sombra da árvore é o melhor que temos. E o parque, o melhor sítio. E lá estivemos algum tempo.
E regressámos a casa, com a temperatura um pouco mais amena. E entretivemo-nos a regar o jardim, enquanto, na estrada, o movimento de pessoas e viaturas ia aumentando.
Das pessoas que passavam na rua, a juventude era a mais abundante, na exuberância do irrequietismo próprio da idade, e de manifesta boa disposição, pelo que as risadas eram sinal de paz interior e esperança na vida.
Mas também passaram uns ciganos, de regresso ao acampamento, algumas centenas de metros acima, alguns dos quais era habitual baterem-nos à porta: não a pedir dinheiro mas um pouco de pão, roupa ou calçado. Passaram em grupo silencioso; e silenciosamente desapareceram na curva acima.
Instantes depois, surgem duas miuditas, aí dos seus treze anos, ciganas também e do mesmo clã. Vinham a brincar. Uma delas, de um saco plástico preto, que trazia nas mãos e cheio de papéis, dele fazia boneca. E a boneca embalava nos braços, encostada ao peito.
Ao ver-nos a regar o jardim, pediu-nos de beber. E nós deixamo-la beber, pelo que entrou no recinto do jardim. E como esta rapariguinha tinha sede! No entanto, achou graça ao chafariz da mangueira, que ora jorrava em jacto directo, ora o mesmo tomava a forma de leque, no qual a água quase se transformava em nevoeiro espesso e forte num largo círculo. Encantada com o espectáculo, pediu-nos para que a deixássemos também regar um pouquinho. E nós deixámos que a miúda se entretivesse a regar um pouco.
Sorria, gaiata, de olhos muito vivos e escuros, em rosto moreno e cabelos compridos, fortes, pretos. No seu corpo um nadinha reboliço, na sua estrutura de criança os seios iam ganhando formas de rapariga viçosa, flor silvestre perfumada em terreno bravio da montanha.
Assim entretida e a rir-se, deixou-se, depois molhar toda, virando para cima o jacto de água que até então regara as plantas e como chuva caía sobre ela. E depois de assim molhada, com toda a roupa colada ao corpo, mais a sua silhueta feminina se evidenciou, no pormenor de todas as suas formas que a generosidade da Natureza torneia com perfeição também nestas criaturas que, perante Deus, o são tanto ou mais que nós.
No entanto, não mostrava pressa de parar com o seu entretimento. Pedimos-lhe, por isso, que nos deixasse continuar a nossa rega. Sem nos ouvir, feliz, sorridente, de novo se deixou molhar pelo chuveiro que saía da mangueira. Insistimos. Tempo perdido.
Com alguma delicadeza, tivemos de tomar uma posição mais firme. Até de ameaça. Feliz como a ciganita estava assim a brincar, nada feito. Então, a outra solução mais eficaz tivemos de recorrer: Fomos pegar no cão; não para lhe fazer mal, já que ele até a ninguém assusta desde que a pessoa conheça. Porém, mal a ciganita o viu, quase o coração lhe caiu aos pés, de assustada. Num ápice, largou a mangueira e deixou, no chão, o saco de plástico preto com os papéis que tinha dentro e que, até ali, tinham sido a sua boneca. Numa fugida, assim, por um medo escusado, num instante desapareceu na curva onde há um bom pedaço os outros ciganos, em silêncio e sob o calor, haviam sumido também.
Ficou-nos a satisfação de podermos ter proporcionado a alegria de esta ciganita brincar assim com a água. Mas ficou-nos o remorso de a termos assustado.

José Pedro Marques

A LUA E A JANELA

No centro da praça um lindo jardim com amores-perfeitos exala um perfume primaveril, orientando os pares de olhares que ali circulam. À esquerda da praça ouvem-se as doze badaladas do anúncio de um novo ciclo de alegrias e tristezas.
Mais ao fundo, uma linda melodia chega aos ouvidos daqueles que um dia foram nossos mestres.
Junto com a melodia abre-se uma pequena janela branca, iluminada por um perfume poético inigualável, projetando-nos a um mundo exótico.
Fisgados pela melodia, passos calmos e gentis se aproximam, levando com eles um carinho único e soberbo.
No quarto, uma brisa leve faz com que uma cortina branca voe em um movimento lento, com querendo dizer alguma coisa.
Sobre a cabeceira, um cristal reflete um prisma multicor, misturando-se ao brilho da lua e ao perfume.
Sob a colcha vermelha, uma linda alma coberta por uma camisola branca se retorce em carícias misteriosas, seus gemidos harmônicos tomam conta do ambiente transcendendo a luz do luar que penetra por aquela janela, deixando seu corpo em êxtase total.
Em um ruído tímido a porta se abre, o perfume e se apaga e uma sombra de carinho se aproxima lentamente até aquele corpo que brilha romantismo, rompendo o luar.
Discretamente seu corpo é erguido até o centro da colcha. No mesmo instante, em um passe de mágica, uma linda voz ecoa Alaniz., enquanto lábios úmidos inundam o pescoço daquela alma que delira em um pecado sem igual...
Lentamente, dentes rompem um laço, fazendo com que a camisola branca caia lentamente, deixando suas rosas desabrocharem para um mundo de magia e êxtase...
Enquanto isso, como cúmplice, a lua arremessa seus raios com intensidade, iluminando aqueles que amam sem medo.
Sobre a colcha vermelha, carícias loucas misturam-se ao prisma, formando um só âmago, um só coração...
Naquele ambiente multicolorido, gritos e gemidos são remetidos até a praça, fazendo com que corações e mentes encham-se de um delírio tímido e infinito.
E na janela a lua observa aqueles que ali se acariciam loucamente exalando o perfume da paixão, do desejo. A sombra do carinho, com seus lábios úmidos, percorre sua geografia, descobrindo os rios, veios e relevos mais misteriosos.
A lua na janela aumenta sua penetração, revelando os corpos que ali ardem em momentos únicos, divinos, abençoados.
Bocas e mãos se entrelaçam em movimentos loucos, corpos úmidos de paixão encaram os minutos como hora de paixão e reflexão.
Enquanto ouvidos e olhares arrepiam-se com a melodia que invade a praça, uma badalada indica que o momento reinicia com penetração celeste da lua em seu mais profundo âmago, deixando sua alma leve, livre de preconceitos e respeitos ou compaixões.
Na janela, a brisa e a lua observam os corpos bêbados de prazer fundindo carinho, amor e êxtase.
Já restabelecida, com sua língua úmida e um pouco áspera, aquela alma começa a descobrir uma geografia até o momento oculta para seus lábios. Com gemidos suaves, sua paixão cresce a cada toque daquele elemento tão frágil que vem descobrindo os sabores da vida que ali arde sem sentimento de culpa, sem perceber que uma pequena semente foi plantada para que mais tarde seja regada com a prata do prazer e ouro daqueles que acreditam no amor em sua plenitude, sem que nada e nem ninguém mude aquele momento mágico.
Enquanto aquela alma desliza em seus horizontes, seu carinho acaricia um corpo que ferve em desejo de tornar aquele momento único e soberbo.
E na praça os olhares continuam a vagar, agora totalmente desorientados, à procura do motivo por que em suas vidas aquele momento também não era real e perfumado como a noite.
E, como por encanto, a lua, em sua forma plena, vela aqueles corpos cobertos por raios multicores, e ardem em gozos e gritos, unindo corações e mentes em um só corpo, em um único e divino momento.
Os amores-perfeitos daquele jardim abrem-se para o mundo como se aplaudissem aqueles momentos de paz e euforia totalmente sincera e elegante.
Os jacarandás ao redor da praça servem de abrigo para bem-te-vis, sabiás, curiós e cardeais que, mesmo na noite, cantam sua melodia agradecendo aos céus o momento do amor, o momento do perfume, o momento da paixão sem barreiras ou argumentos falsos, hipócritas.
Naquele quarto, os raios da lua penetram e cobrem os corpos de prata, tornando a penetração ainda mais apaixonante, chegando até o âmago daquela existência frágil e tentadora.
Sobre a colcha vermelha, dois mundos dividem uma história de muito carinho e sabedoria.
Na janela, como despedida, a lua, com sua cor de prata, mostra-se radiante, dizendo que ali foi plantada uma semente imortal, que regada com naturalidade fará desabrochar o amor em sua forma plena e cativante, fazendo com que a paz renasça para o amor sem paradigmas ou preconceitos.
E se despede, dando lugar ao sol, que reinará absoluto em sua luz mais brilhante, brindando a todos com a primavera do justo.



Auber Fioravante Júnior

 11/02/2006

Porto Alegre - RS


UM CONTO AO LUAR...

Um encontro ao luar...

Uma jovem de 27 anos ficou muito feliz por ter sido promovida no escritório que trabalhava, resolveu convidar seus colegas de trabalho para comemorar, aproveitando que era uma sexta feira.
Alguns não puderam ir porque estudavam à noite, apenas a sua colega Silvana topou ir, mas como iriam só as duas? Silvana, então, resolveu chamar seu namorado Alexandre, um jovem bonito, inteligente e que dava aulas de desenho em um curso de uma igreja, no Grajaú.
- Puxa, como eu irei ficar, segurando vela? Perguntou a jovem à sua colega. Silvana logo pensou e resolveu pedir para Alexandre levar um amigo dele. E disse: - Assim, você não ficará sozinha.
Na hora da saída do trabalho, os dois rapazes lá estavam. Foram a um barzinho ali mesmo na zona sul do Rio de Janeiro.
Papearam, brindaram, beberam e comeram...
Um deles comentou: Mas ainda é muito cedo, o que faremos depois?
Resolveram dar uma esticada, pensaram em ir até a praia na Barra da Tijuca, pois o Alexandre estava com carro.
E assim fizeram...
Ao chegarem à praia cada casal foi para a areia papear ao luar. A jovem ainda tímida, nem sabia direito quem era aquele rapaz lindo, alto e com um papo delicioso.
Tomando água de coco na beira do mar, eles começaram a se conhecer. Ele então falou que estava concluindo medicina e perguntou astutamente para descontrair, qual a especialidade que ela achava que ele estava fazendo... Ela, diante da cara de safadinho lindo, foi logo dizendo:
- Acho que é ginecologia.
Nesse momento, os dois jovens riram muito. Foi um delicioso momento descontraído de risos, em que os dois então se descobriram... Descobriram que estavam desejando um ao outro... Ele respondeu que não, que era ortopedia. Mais outra gargalhada.
Mas afinal qual era o nome dele mesmo? Tinham sido apresentados, mas ela estava tão aturdida com a beleza do rapaz que nem prestou atenção ao nome... Entretanto, ele falou um nome tão grande, que a deixou tonta...
Agora estava nos braços desse raoaz, que versejava para ela ao seu ouvido e nos intervalos a beijava. E ela mais ainda se encantava. Depois de deliciosos beijos e a lua era a testemunha... Depois que algumas horas se passaram, lembraram do outro casal de amigos. Aonde estariam?
Retornaram ao calçadão, agora de mãos dadas. Ela carregava na outra mão um coco, pois queria comer a carne de dentro do coco.
Ao encontrarem com o casal, perceberam o quanto já era tarde, madrugada mesmo. Por isso, o jovem casal resolveu ficar juntos.
Estavam bem perto de um motel. Entraram os quatro de carro no local, mas nem Silvana nem o Alexandre queriam dormir, ou seja, fazer sexo... Foi então que combinaram que o Alexandre e a Silvana continuariam no carro, enquanto o jovem casal deliciaria naquela cama de motel.
O rapaz muito ativo e a jovem muito folgosa. Fizeram amor a noite toda, ou melhor, a madrugada toda... Quando viram, já tinha amanhecido. Só aí que o jovem casal se deu conta dos amigos no carro!!...
Arrumaram-se correndo e foram para o carro. E lá estavam, a Silvana e o Alexandre. Os dois haviam dormido a noite toda no carro, coitados.
A jovem ficou muito sem graça por ter feito a amiga passar a noite inteira dentro do carro...
Só restou para eles, ter que levar Silvana em casa, pois a mesma morava no prédio no Centro do Rio, no famoso “Balança Mas Não Cai’.
E, a partir, desse momento de despida do casal, nunca mais os dois jovens se viram. Apesar daquela menina ter-lhe dado um cartão com seu telefone, entretanto, ele nunca a ligou, nem a procurou no trabalho.
Foram duas almas, dois destinos que se encontraram, mas que acabaram por se perder nas curvas do caminho da vida. Desta história de encontros e desencontros surguiu uma linda semente de vida, sim, uma linda flor nasceu! A flor do luar...

Autoria: SOL Figueiredo – 06 de agosto de 2012.


Vejo-a chegar todas as manhãs. Vem sempre de branco. Permanece um pouco de pé olhando as ondas. De seguida senta-se junto à linha da água e ali fica por tempo infinito.

Quando, em pleno verão, os veraneantes começam a chegar com os filhos e a quietude do lugar termina, ela desaparece, como se nunca tivesse feito parte daquele quadro.

Eu tenho uma casinha aqui na praia; fui pescador uma vida e conheço este mar, e este sitio como a palma de minha mão.

Vi muita coisa ao longo dos anos. Mas, juro que nunca havia visto moça mais bonita que esta. Linda e no entanto um mistério. Um mistério que ainda não consegui decifrar.

Onde esconderá! porque não gostará de se misturar com a multidão que ri, que se atira em mergulhos salgados e frescos... Com as crianças que constroem castelos na areia, para desfazerem de seguida com ar maroto?

Será que padece de timidez? será que tem hora marcada para ir embora? O que mais me intriga é que eu nunca a vejo sair dali. 

Vejo-a junto ao mar. De seguida, se me distraio com algo no horizonte distante é o suficiente para a perder de vista.

Não pensem que sou um velho gaiteiro ou coisa do género. Nada disso. Intriga-me esta visão.

A primeira vez que a vi reparei que chorava. Os olhos cor de safira ficaram inchados. Quis aproximar-me para perguntar se podia ajudar; ela num aceno recusou e escondeu o rosto entre as mãos entrando no mar revolto da madrugada.

Eu rumei ao meu destino. A partir desse dia, vejo-a todas as manhãs. Nunca mais a vi chorar. 

Por vezes parece conversar com o oceano. Nesses momentos a luz do sol incide no seu cabelo, parecendo pegar fogo. Mas, é um fogo de paz...juro, que sou capaz de sentir um fragmento dessa paz, que se desprende dia moça.

Nesta minha praia, onde vivi com minha mulher, durante quarenta anos, até que a morte nos separou vi tanta coisa; naufrágios, mortos, grandes peixes...mas mistério assim nunca, nunca vi.

É bonita, sempre com o mesmo vestido branco...! 

Fala com o mar e transmite-me paz. 

Já estou habituado...desde que perdi minha querida esposa, esta moça acalma-me.

Tem o mesmo jeito de segurar os cabelos que a minha falecida.

Gosto de a ver todas as manhãs.

Pétala Maria






Adorável Visita

Passava das oito da noite quando Adélia ouviu tocar a campainha.

Esparramada no sofá após um dia exausto, atendeu
sem a mínima vontade diante da insistência.

Vivenciava momentos difíceis – fim de um
relacionamento antigo, distância dos amigos, solidão.

Entorpecida pelo silêncio noturno emoldurado
pelas longas madrugadas pouco fazia para si.

Meio que no automático cumpria as atividades
profissionais, para o restante especialmente o lazer
cerraras portas por tempo indeterminado.

No portão uma menina – devia ter uns 8 anos no máximo.

Antes que Adélia perguntasse o que buscava, a pequena expressando um largo sorriso adornado pelo brilho dos olhos disse que precisava de um abrigo.

Estranhou o pedido.

De onde veio esta menina - pensou.

O semblante terno da criança foi suficiente para que abrisse o portão.

Convidou-a para entrar.

- Quero um abraço, você pode cuidar de mim apenas por hoje?

A voz meiga e a confiança passaram para Adélia
a impressão de que conhecia a criança.

Afagou-a com ternura, ofereceu a poltrona branca,
pediu que se sentasse enquanto preparasse um lanche.

Sentiu uma alegria com a presença, percebeu o
quanto amor poderia compartilhar, o quanto tempo
estava perdendo se fechando para a vida.

Conversaram muito!

- Que menina encantadora!

- E seus familiares, sabem que você está por aqui?

- Sabe sim!

A senhora não me observa, mais todos os dias estou
no lado oposto da calçada.

Percebo que muitas vezes a senhora entra chorando.

Não a vejo sair de casa a não ser para o trabalho,
nunca vi receber visitas.

E as luzes estão sempre apagadas.

Pensei, esta moça deve ser triste.

Por isso bati no seu portão.

Na minha família somos todos assim.

Desde pequenos somos orientados para ajudar
o próximo, no que ele mais precisa – o calor humano.

Minha mãe sabe que estou aqui, posso ficar até amanhã.

Adélia não sabia o que dizer!

Como uma menina daquele tamanho dizia coisas
com tanta propriedade - ficou a pensar.

Enquanto ouvia, sentiu abrir as emperradas janelas da alma.

Abraçou demoradamente a criança de quem nem o nome sabia.

Não precisava, a felicidade do momento bastava.

Preparou a cama com um lençol bordado pela mãe
com margaridinhas adornadas de renda.

Trocou a fronha do travesseiro de macela, perfumou
o quarto, ofereceu para a menina dormir.

Maravilhada com o acontecido, adormeceu na cama ao lado.

Ao despertar notou que a pequena havia partido!

Percebeu que algo mudara naquela manhã.

Sentiu paz, alegria, felicidade, vontade de compartilhar abraços, de apagar o passado, de recomeçar a vida.

Mais que isso, através da prece agradeceu a graça
recebida do Pai Celestial simplesmente por estar viva.

Os sonhos adormecidos no arquivo das tristes lembranças deram lugar para as recordações da infância.

Corridas, brincadeiras de rodas, pular cordas,
amarelinha, jogar bolinhas de gude, peteca, brincar de casinha e boneca.

Saudades de um tempo distante.

Quando deixava a casa rumo ao trabalho reparou na
soleira da porta de entrada um perfumado papel
cor-de-rosa dobrado como origami.

Pegou-o com cuidado.

Na primeira dobra estava escrito – Adélia, para você!

Abriu-o delicadamente, quando viu a foto da
sorridente menina que tanta alegria lhe trouxera
na noite anterior.

Logo abaixo a mensagem escrita em letras douradas.

"Querida Adélia, obrigada por reabrir as portas do coração para me receber de
volta em sua vida!"

Ao final a assinatura...

Carinhosamente, Esperança,
(Filha do Amor e da Bondade).


(Ana Stoppa)


3º ENCONTRO

Enfim, tivemos o nosso terceiro encontro
na parte da manhã em uma, outra hora
falamos das coisas do mundo de ontem
e dos acontecimentos do momento de agora.
O tempo como sempre em nosso dia voou
demonstramos o ponto de vista e sentimento
esboçamos a nossas ideias em palavras
e coisas foram compreendidas em pensamento.
Falamos da arte da musica e da dança
falamos do tempo, deserto, mar e maresia
falamos do trabalho compreensão e esperança
falamos dos cantos, livros e das poesias.
As horas como sempre navegavam com asas
falavam, gesticulávamos entre mímica e ria
o dia, uma criança mesmo longe de casa
quando menos esperava mos já era tardinha.
Ah que encontro belo serio e aproveitador
relembrando as  coisas antigas que ficam para traz
detalhas esquecidos que havia em nossos avôs
no tempo do ontem que não volta jamais.
Expressa se como deusa tentando me entender
fazendo rascunho do passado e fixando no futuro
cantando gesticulando poetando pra valer
expondo o maleável e também o tempo seguro.
Se jogou na vácuo acertando a dimensão
caiu bem  no esperado futuro do amanhã
contando lagrimas e sentimentos do coração
espelhou me os seus sonhos e sono no divã.
Tudo, tudo muito serio com alta dignidade
sem lacuna sem meio sem mistério
com sua filhas de todos as cantos e cidade
com algumas musicas e uns contos sério.


            A.Montes 05/12/12



Aquele banco de jardim testemunhou os mais lindos e raros momentos de amor.
Ali foram proferidas as mais belas palavras e dados os beijos mais ardentes de paixão.
Uma paixão que jamais Helena poderia conceber ter um fim.
Os corações batiam em únissono, assim como suas almas. 
Muitas foram as luas que ouviram as juras de amor, sussurradas debaixo da TIlia perfumada.
Ainda sente os abraços quentes de Miguel ; o cheiro de sua pele. O timbre de sua voz melodiosa.
Agora no velho banco, ela chora a saudade. O coração entorpecido. Sim. 
A paixão chegou ao fim dando lugar a um sentimento indefenido, que Miguel não quis aceitar...para ele fora o fim. 
Helena não conseguia entender nem aceitar o fim da relação.
Se a paixão acabara ficara o amor. Um amor calmo e bonito sem o fogo avassalador da paixão. A paixão dura pouco.
O amor permanece.
Helena com o coração a sangrar faz o luto desse amor. Chora, deixa rolar todas as lágrimas que não pode conter dentro de si. Limpa sua alma.
Um dia esquecerá e outra paixão viverá. Até lá é deixar correr as lágrimas e as luas.

MariaAquele banco de jardim testemunhou os mais lindos e raros momentos de amor.
Ali foram proferidas as mais belas palavras e dados os beijos mais ardentes de paixão.
Uma paixão que jamais Helena poderia conceber ter um fim.
Os corações batiam em únissono, assim como suas almas. 
Muitas foram as luas que ouviram as juras de amor, sussurradas debaixo da TIlia perfumada.
Ainda sente os abraços quentes de Miguel ; o cheiro de sua pele. O timbre de sua voz melodiosa.
Agora no velho banco, ela chora a saudade. O coração entorpecido. Sim. 
A paixão chegou ao fim dando lugar a um sentimento indefenido, que Miguel não quis aceitar...para ele fora o fim. 
Helena não conseguia entender nem aceitar o fim da relação.
Se a paixão acabara ficara o amor. Um amor calmo e bonito sem o fogo avassalador da paixão. A paixão dura pouco.
O amor permanece.
Helena com o coração a sangrar faz o luto desse amor. Chora, deixa rolar todas as lágrimas que não pode conter dentro de si. Limpa sua alma.
Um dia esquecerá e outra paixão viverá. Até lá é deixar correr as lágrimas e as luas.


Pétala Maria

Sem comentários:

Enviar um comentário