Desde há algum tempo que pensávamos no modo de mostrar o carinho que sentimos por cada um dos nossos comentadores que dia a dia se desdobram para manter vivo este espaço, lendo, comentando e transformando num espaço vivo este Cantinho.
Pensamos que a criação deste espaço responderia um pouco a essa intenção de lhes mostrar o apreço e gratidão pela sua dedicação. Não para lhes retribuir o seu esforço mas para que sintam que os estimamos e apreciamos.
A partir de agora, dia a dia serão aqui colocados poemas seus, publicados no nosso Solar.
Esperamos agora os vossos trabalhos.
A Administração
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2014 12 18
Estagnação
À sombra da palavra
Permanece o homem.
Nesse estado letárgico
Escreve, quase sempre, medo.
Tenho que prescindir dos desejos
De gritar o que me vai à alma.
É o desamparo de viver
Mostrando o seu escárnio
À pericibilidade da vida.
Por instantes desprezo os sonhos
Para viver a realidade
Dessa minha lucidez
Que me desampara
Porque o que faz vibrar
É o inesperado.
São as paixões.
Chego ao limiar da minha porta
E ao abri-la
Preciso renunciar ao tempo
E escrever uma nova história
Mesmo que o sangue escorra
E do outro lado o vácuo me espreite.
Empurrar esta porta é encontrar possibilidades...
Assim, eu me corto em palavras,
Para sangrar tudo o que carrego na alma.
Lígia Beltrão
Na praia
À noite na praia sorrindo surgiste,
Trazia consigo fragrância das flores,
Em ondas vibrantes no peito sentiste,
Imensa paixão lapidar seus valores.
Brilhou como raio que corta o
infinito,
Rasgando o universo de falsas promessas,
Sulcou o mar de areia ecoando num grito,
Buscando o farol de centelhas confessas.
Tremendo a fluir sensações e
desejos,
Ferveram o sangue em fortes lampejos,
O mar silenciou para o amor venerar.
E a praia em silêncio calou a
sereia,
Colheu a beleza espalhada na areia,
E pautou as notas da canção do amar.
Elair Cabral
Os sinos tocam
Mais um natal que passo, longe da
minha terra. Os sinos tocam, minha alma
de maneira diferente, que nem eu sei, se o meu coração os sente. Sei apenas que
em mim estão sempre presentes.
O espírito de Natal na minha terra tem, todos os
dias um Céu igual. A neve cairá como
eu a vi, quando lá vivi.
Já não há Natais especiais para mim… minha terra
amada … a saudade é qualquer coisa
que faz minhas Estrelas brilharem e o olhar é mais
frio e mais ausente… cheio de nada!
Serás tu Meu Pai Natal… que me fazes sonhar?
Reviver o meu saudoso passado, há tanto tempo ausente, da minha saudade.
Saudade que me faz voltar atrás no tempo e reviver…Reviver esta Saudade
independente e arrancada da minha terra!
Maria Tavares
2014 12 17
A porta da vida
vê como a porta da vida está
aberta,
... te convida a
provar da beleza e diversidade,
sai, salta...bebe
do que te é ofertado.
Vê como os mares se
adornam de safiras,
vê como o céu se enfeita do pó
dos cometas,
vê como os vales e montes se vestem numa profusão
de flores!
A porta aberta te convida a viver,
não te detenhas.
Não há tempo a perder!
Há crianças a brincar com os olhos a encantar,
há risos na praça,
Vendedores de sonhos num circo a chegar.
Vê os velhinhos de olhar enrugado,
mas com tanto saber a ser partilhado,
vai...pega-lhe nas mãos e deixa-te levar pelo
coração.
Vive com sabedoria da beleza da vida.
Não te deixes vencer pelo medo...
e se o mar encapelar e se os montes se puserem a
chorar,
não te lamentes! tudo isso vai passar.
Vive com emoção, eleva os olhos aos céus,
sê prudente e amiga, partilha a magia da vida!
Emília Pedreiro
Festa da rua
Olha que giro
Ela comprou um vestido
Mesmo sem saber seu destino
Hó, que engraçado
Ele comprou rebuçados
Mesmo sem saber
A quem estavam destinados
Há que imaginação!!!
Eles compraram o Calçadão
Para fazerem a verdadeira festa
Do vestido e da boneca
Dos rebuçados açucarados
Para os meninos de rua
Que não conhecem o Natal
Dos que compram sem noção
Tudo que não faz falta
Nem aconchega o coração…
Albertina Correia
Desistir...
Nunca
Qualquer que seja a crise
de tua vida nunca destruas
as flores da esperança para
que possas colher com felicidade
os frutos da fé.
As lágrimas possuem uma força
especial,
derretem gelo e aquecem corações.
Tina Gante
2014 12 16
Sonhos entorpecidos
Na crista das ondas,
Leves brisas
Encrespavam
A água do mar
Em ondazinhas.
Interferiam
Com reflexos
O meu sorriso,
Suavizando
As minhas feições.
Os sonhos estavam
Entorpecidos
Pela saudade,
Eram como pequenos
Grãos de areia.
Isabel Beato
Indignação
Errantes seres, que vagueiam pela
estrada do pensamento
Formulando equações e pretensões
Incessantemente buscando conclusões
Agudizam as frases feitas,
Em busca da perfeição, do que pensam ser viver
Sózinho ou sem nenhum Ser
Não raras vezes ficam pelo caminho
Procurando explicações
De tantas que tanto existem
Alteradas pelo decorrer, que é o de cada viver
Ó errantes seres,
Disso estareis certos
Que da vida louca que fizemos
Mais dela não queremos
Mas buscamos incessantemente
Respostas para a indignação
Desta caminhada infrutífera
Pensamos que cheios de razão….
Albertina Correia
Reverso
Minha alegria é revolucionária.
Nada quero que me limite.
Para viver preciso de coragem,
Aquela áspera e eficaz,
que me transforma de quando em vez.
Meu amor pela vida me transcende!
Na noite do meu mundo secreto
descubro que a minha alegria
dorme atenta
para acordar a minha perdição
quando os limites do humano
tornarem-se divinos.
Supõem que sou forte. Não é verdade.
Sou tal qual uma flor em botão
delicada e carente de cuidados
a espera de florescer.
Logo, a minha dor explode em risos.
Sou reverso!
Lígia Beltrão
2014 12 15
Palácio do fado - Recordando amália
Rendas, brocados, fatos espalhados, faianças quais cantatas, que
denunciam uma vida de saudades feita. Guitarras, jasmins, rosas, medalhas,
florins, retratos pintados, excelsos quadros. Tudo foi teu, tudo tem a tua cor,
a tua sede de amor e o teu toque singelo.
Aquele xaile dobrado a cetim contou-me uma história ímpar, a
tua. Disse-me que, aquando da tua adolescência, sonhaste ser pássaro trepador,
flauta, água cristalina e palácio de sereias, porque quererias muito que as
crianças e os velhos do teu/nosso país vivessem contigo esses sonhos pintados
de mil tons, que te assediavam diariamente.
Nunca quiseste a esmola, sempre refutaste a maledicência e,
crente em Deus, colocaste no teu Sacrário, e à beira da tua cama, um lindo
JESUS onde, ainda hoje, te revemos solicitando-lhe a concretização de sonhos
mil. Adoraste muitos espaços que estão ali, naquela que foi a tua alcova,
falando em surdina com o visitante, e numa análise de pormenor, percebemos com
facilidade quais os espaços universais que mais histórias te contaram e quais
as pessoas que contigo fizeram melopeia pela poesia das coisas e pelos ditos
dos homens.
No teu quarto, cuja respiração ofegante é uma constante, para
aqueles que lá entram mercê da saudade, vêem-se muitas imagens d’anjos e
jasmins que adoraste e a quem solicitaste paz nas horas de hecatombe. Oraste,
decerto, ao teu senhor solicitando-lhe que aquele teu habitat fosse sacralizado
e doado aos que nada têm de seu.
Choraste por ti, por nós e por tantos que, quando percebeste que
partias, disseste aos teus amigos que quererias que as tuas paredes pintadas
fossem albergue constante do povo anónimo que sempre te amou, e do qual tiveste
essência e existência, num embalo fraterno - qual laço de mil nós, bem
apertado.
Hoje, a Rua de S. Bento... a tua rua tem a CASA MUSEU de AMÁLIA.
O lar aberto daqueles que te quiseram demais, e que não aceitam que subiste ao
alto do Monte. Voaste, qual andorinha perdida, mas sentimos que todos os dias
vens abrir a tua porta, de par a par, e fazer uma reverência enorme a quem
entra, para rever as coisas que tiveste e não perdeste, apesar da tua subida ao
céu.
Estás feliz, finalmente, porque o dinheiro da entrada na tua
terrena pousada, nos teus aposentos é receita para doentes, para gente carente,
para homens que querem um dia melhor do que o ontem, e um futuro mais risonho,
que o PRESENTE/AGORA. Dorme, rainha do som divinal, no teu arsenal de plenitude
e beleza moral, porque em Portugal – e onde há portugueses – ainda se canta o
fado!
Que Deus te proteja! Descansa no leito para onde Portugal te levou,
honrando-te!
Para ti, uma pétala de saudade e uma lágrima infinita denotativa da grande
recordação!
Luísa Ramos
Mesma lágrima
Somos assim amor
O olhar perfeito que se cruza
A mulher de sonho
O príncipe encantado
Um conto de fadas
Uma história de bruxas más
De injustiça e mágoa
Numa pitada de loucura e risco
No limiar da salvação conjunta
Somos assim amor
O amor perfeito
Que um dia será aclamado
Que vencerá as barreiras impostas
Que porá fim a esta maldade
Como é intenso este sentir
Amando e sentir que não se devia
Amar como nunca se amou
Sentirmo-nos o embalo de alguém
O seu pensamento em nós
Devorar essa ideia perfeita
Do perfeito que quisermos ser
Somos assim amor
Feitos um para o outro
Nascidos da mesma lágrima
Separados pelo vento
Crescendo em terras diferentes
Que muito tarde se cruzaram
E que o tempo teima afastar.
Sara Ribeiro
Elos de amor
Que haja elos de amor,
elos de carinho,
de ternura infinita!
Que floresça o perdão,
a paz,
e a união.
Que se unem aos mãos,
entre diferentes raças e credos,
que haja compreensão,
amor,
sorrisos entre inimigos.
Elos de perdão,
de gratidão,
de coração.
Que floresça a harmonia,
a empatia,
o altruísmo para um mundo mais são!
Emília Pedreiro
Amar significa
acreditar sem medo
que no fundo do coração
existe sempre algo amoroso,
mas que não cresceu.
Se te for possível deixa-te amar
e abre a porta do teu coração
com o brilho da tua imaginação.
O amanhã é sempre
o resultado das escolhas
que hoje fazemos.
Não desesperes e
Sentir-te-ás viver com muito
mais alegria.
Tina Gante
2014 12 14
Acaso
O futuro do passado no presente.
É tudo no momento que se sente.
Não o esquecimento e sim à vontade
De fazer do agora tendo a bondade
Do tempo a hora escolhida e bem-vinda.
Trancar a emoção que jorra e ainda
Que latente, senti-la mais suave e contida.
Não deixar de verbalizar o ser tão importante
Em primeiro lugar e o seremos depois adiante.
O olhar profundo e não passageiro somente
De um coração pulsante e de uma mente,
Que seja a semente do acaso incessante.
Solange Moreira
Desambiguação
Quando me pergunto:
- Quem sou eu?
Ainda fico perdida.
A minha essência se mantém
além de tudo.
Quem dera eu tivesse
todas as respostas...
Ainda assim,
minha pequenez
seria enorme.
E eu,
sempre esse amontoado de eus
ocupando o mesmo espaço.
Há dentro de mim,
Inatingíveis, estrelas desconhecidas.
Lígia Beltrão
*A dádiva, o esplendor do natal*
Pelos montes vales e serras,
na terra, feita esteja a flor...
que não chova chuva de guerras,
haja Natal, na paz do
amor.
Que nos permita o caminho,
em serenidade doçura,
alcançar do Deus menino,
a sua benção e ternura.
Afaga a Virgem uma Luz
acontecimento fraterno,
um Natal chamado Jesus
a Palavra viva, do Eterno.
Nasce na noite desse dia
seu filho… de Deus muito amado
ao seio o achegava, sorria,
de alegria… Deus seja louvado.
Foi a simples estrebaria,
palco nobre mas sem conforto
do nascer, a Sabedoria,
do que por nós, seria morto.
Élia Araújo
Noite especial
Naquela noite de Natal
Fria de Dezembro,
As luzes acendem
E começam a brilhar.
As ruas estão vazias
Para as renas e o Pai Natal.
Com alegria e emoção,
Reúnem-se as famílias
Nos lares juntos aos madeiros,
Pois chegou o Natal.
Sentimentos à flor da pele
De mãos dadas,
Cantam o espírito do amor
Com paz no coração.
Alimentam a união familiar,
Para que todos os dias
O amor seja especial.
Isabel Beato
Aquela
flor....
Num rumor ao fim do dia
O Sol por trás dos montes
Esconde-se com magia
P'ra n'outro dia, vir beijar as fontes.
Sinto as fragâncias no ar
Que inalo com prazer
A luz e o brilho do luar
Em cada anoitecer.
Vejo as sombras serenas
A dissiparem-se no céu
A Lua e as Estrelas amenas
Romperem brilhantes o breu.
Tenho saudades do aroma
D'uma determinada flor
Era aquela que me oferecias
Nos sonhos d'um idílico amor.
Ilda Ruivo
A dança da vida
A vida é um grande salão
Reduto de cada passo
Coreografados, ou não
Dançar é a condição
Mesmo fora do compasso.
Os ritmos quero dançar
Dedilhados pelo tempo
Do clássico ao popular
O viver a comandar
Som espaço e contratempo.
Hoje a dança é de alegria
Porque ontem semeei
Reguei e sagrei valia
Das virtudes nasceria
A paz que tanto esperei.
A cada coreografia
Que exige minha atenção
Formato a fotografia
Com respeito à ortografia
Que rege meu coração
E quando perco o compasso
Em música indefinida
Mesmo amargando o fracasso
Volto a acertar o meu passo
Pelos registros da vida.
E flutuo no salão
A dançar pelo viver
Choro de dor e emoção
Encontro e perco a paixão
Num eterno renascer.
A cada queda na essência
De um deslizar melindroso
Ganho mais experiência
Pra ritmar a vivência
Neste giro fabuloso!
Elair Cabral
Razão e emoção
Estou num fogo cruzado
Entre a razão e a emoção
Planetas em céu nublado
Galáxia, estranho condado
Na cruel separação
A razão sabe que a dor
É cinza que o vento leva
E logo surge outro amor
Que ter saúde é louvor
E amor família te eleva
Mas, a emoção desconhece
E massacra com veemência
Vem vestida em doce prece
Nosso querer desfalece
Feito refém sem clemência
Sentimento poderoso
Comanda-nos sem piedade
Feito avião majestoso
Que em solo pedregoso
Cai em forma de saudade
O amor é o melhor fruto
Para esse fogo aplacar
Borda no peito o tributo
De um caminho absoluto
Nas pradarias do amar
Elair Cabral
No oculto dum ser
Ponho-me a cismar
nas borboletas
que nos teus olhos voam
quando não me encontro
ao transformar-me
na noite
que descera em flecha
agarrando-se
ao meu corpo como pez.
Não tem voz o meu corpo
na falta do equilíbrio
dos túneis que vacilam
onde habitavam
vestidas de estrelas
as borboletas.
Perderam então as asas
e a noção alienável
que a luz permitia.
Élia Araújo.
Tática
Vinha a vida
e sorrindo
cobrava-me tudo.
Eu chorando
dizia-lhe não.
E seguia...
Numa estrada
comprida, vazia
e sem razão.
Até que,
tomando-lhe as rédeas
cobrei-lhe tudo,
mas ela deu-me
tão pouco...
Tomei-lhe o mundo.
Perdoei-me o medo
as mágoas, a dor...
Veio a vida
e deu-me o amor.
e sorrindo
cobrava-me tudo.
Eu chorando
dizia-lhe não.
E seguia...
Numa estrada
comprida, vazia
e sem razão.
Até que,
tomando-lhe as rédeas
cobrei-lhe tudo,
mas ela deu-me
tão pouco...
Tomei-lhe o mundo.
Perdoei-me o medo
as mágoas, a dor...
Veio a vida
e deu-me o amor.
Desde então nada lhe peço.
Tenho tudo!
Lígia Beltrão
Sorri
Sorri...
Mesmo que não possuas o que desejas
Mesmo que a vontade seja chorar
Mesmo que não mereçam o teu sorrir
Mesmo que estejas doente
Mesmo que a decisão seja amarga
Mesmo que por dentro sofras
Mesmo que te critiquem
Mesmo que te julguem
Mesmo que se afastem
Sorri...
Não tenhas medo de sorrir.
Não resolve problemas
Não paga contas
Não apaga males
Simplesmente torna suportável
Simplesmente facilita
Simplesmente é outra alternativa
Chorar, ficar triste ou desistir
Jamais podem ser opções.
Sorri...
Não pelo mundo
Apenas por ti.
Sara Ribeiro
Quem És Tu?
Vem. Vem até aqui
E diz-me: - Quem és tu?
Entrelaça tuas mãos nas minhas
e olha dentro dos meus olhos.
Descobre o brilho
de milhares de estrelas
do firmamento.
As canções dos mares
as sinfonias do vento.
A brisa que sopra
ao entardecer.
O sol que brilha
fazendo o dia alvorecer.
Vem... Vem até aqui...
Eu sou a vida.
E tu?
Quem és tu?
Vem. Vem até aqui e diz-me:
- Quem és tu?
- Eu sou o amor!
Redentor de tudo.
Responde o tempo a cuidá-la.
Lígia Beltrão
Templo
Página em branco
Sentado num banco,
Cismando com o tempo.
Rabiscando um templo,
Ou um pensamento adiante...
Uma nostalgia invade diante,
Da distante e próxima semelhança.
Sentimentos povoam a lembrança.
Até o vento se torna companheiro,
Diante desta gritante alma, cheiro
Do passado, um perfume não esquecido,
Faz do coração tão pulsante aquecido.
A vida que passou em um filme lento.
Realmente o tempo, o templo, o vento...
Solange Moreira
2014 12 10
Tempo
Tempo acorde musical
Da vida maestro real...
Tudo passa com ele
Generoso, cruel vem dele,
O chegar e o partir.
A dor também de ir,
Mas a força do sorrir.
O amor que não se detém
Para o coração que se tem.
Sempre é o momento
De agir com sentimento.
Sonhar a esperança,
Também é tempo que se alcança,
Fazer da existência uma bela aliança.
Solange Moreira
Natal
É Natal!
Tudo fala de Natal como símbolo de paz e
amor. Como mágica fantasia, nos contos de fadas.
Em esperanças renovadas.
Vejo apenas tristeza e revolta e em nada
vejo esperança.
Vejo que a estrela que no céu
brilhou e anunciou a boa nova e anunciou a paz e o amor.
Deixou de brilhar e perdeu todo o
seu fulgor. Só vejo mágoa e dor.
Em vez de amor vejo pobreza.
Vejo a criança a pedir esmola,
levando na mão a sacola.
Descalça e quase nua.
Cheia de frio e dor chorando no
meio da rua onde perdeu o sorriso de criança que em tempos trazia nos lábios.
Vejo apenas lágrimas a rolarem no
seu rosto de criança indefesa.
Há muita falta de amor.
Sobeja ódio e o rancor, em vez de
abundar a paz nos olhos das crianças, dos idosos e não só…
Peço a Deus e desejo para todos um Natal mais
fraterno e um mundo muito melhor!
Maria Tavares
Amar e sonhar
Amar e sonhar..
Quem tem uma paixão
Pode amar, pode sonhar
Quem não a tem
Pode apenas sonhar
Mas todos temos uma paixão...
E todos sonhamos sem estes
momentos
de amor e sonhos
Seriamos completamente sós
e desprovidos de sentimentos
que a alma e o coração
nos da com emoção
Quer de felicidade ou tristeza
Por vezes sem razão
Apenas amamos desejamos
e sobretudo sonhamos..
Tina Gante
Ondas de revolta
Porque suspiras, ó mar
Nessas ondas de revolta?
Eu entendo, o teu suspirar
Quando, tu andas à solta.
Escuto o teu triste lamento,
Oiço, o teu louco, murmurar!
Amedrontas meu intento,
Não clames tanto, ó mar.
Não me fales em tristeza
Deixa a tristeza "morrer".
Sentimento sem beleza
Quem o souber... conhecer.
O mar, então se aquietou.
Foi mais calmo o entardecer.
A tristeza, triste sossegou,
Serena, ao anoitecer.
Maria Tavares
Silêncio
O silêncio
É d’oiro
Amigo
Inteligente
Não trai
E diz tudo.
Não é fraqueza
E é necessário
Para nos proteger
Do desconhecido.
O silêncio
Diz mais palavras
Que as próprias
Palavras!
Isabel Beato
Amar e sonhar
Amar e sonhar..
Quem tem uma paixão
Pode amar, pode sonhar
Quem não a tem
Pode apenas sonhar
Mas todos temos uma paixão...
E todos sonhamos sem estes momentos
de amor e sonhos
Seriamos completamente sós
e desprovidos de sentimentos
que a alma e o coração
nos da com emoção
Quer de felicidade ou tristeza
Por vezes sem razão
Apenas amamos desejamos
e sobretudo sonhamos..
Tina Gante
Ondas de revolta
Porque suspiras, ó mar
Nessas ondas de revolta?
Eu entendo, o teu suspirar
Quando, tu andas à solta.
Escuto o teu triste lamento,
Oiço, o teu louco, murmurar!
Amedrontas meu intento,
Não clames tanto, ó mar.
Não me fales em tristeza
Deixa a tristeza "morrer".
Sentimento sem beleza
Quem o souber... conhecer.
O mar, então se aquietou.
Foi mais calmo o entardecer.
A tristeza, triste sossegou,
Serena, ao anoitecer.
Maria Tavares
Silêncio
O silêncio
É d’oiro
Amigo
Inteligente
Não trai
E diz tudo.
Não é fraqueza
E é necessário
Para nos proteger
Do desconhecido.
O silêncio
Diz mais palavras
Que as próprias
Palavras!
Isabel Beato
Contigo meu sorriso é puro
Contigo volto a ser bebé sem dores
A teu lado sinto-me exaltada
Num toque excepcional
Num olhar fenomenal
Num querer transcendente
A singularidade que havia o teu toque
Nessas mãos ásperas e calejadas
Num toque de seda selvagem
De valor incalculável e inesquecível
Quando tua mão encontra a minha
E numa brincadeira a brincar se perde
O calor desse toque se estende sobre a pele
Me estimula e produz felicidade
Passear lado a lado sem vergonhas
Cruzar o caminho alheio e apagar os outros
Ser parada, abraçada, beijada
Num ambiente de luar cúmplice
Em beijos de loucura
Em corpos que se alucinam
Nesse beijo à beira-mar desenhado
Nesse abraço que me envolveu
De um jeito que me prendeu
Quis ser tua num primeiro olhar
Senti-me tua sem precisar te amar
E num beijo roubado eu me apercebi
Que para te amar um dia nasci
Num beijo sem muita elaboração
Destruiste as barreiras que nos separavam
E quando as mãos se tocaram
Andar de mão dada a ti pareceu habitual
E quando nossos corpos se abraçaram
Não te ter mais pareceu-me cruel
Tu, dono de um toque de outro mundo
Desprezado e mal amado pelo mundo
Tu, minha perfeita excitação
Que me fez chorar por agonia
De te ter a meu lado e saber que não podia
Tu, criado com erros e perfeição
Numa sensibilidade descomunal
Numa assertividade que me desconcerta
Numa alma para mim jamais encoberta
Tu, que com a tua voz me despertas
Num conhecimento único e ancestral
E quem te magoou assim não soube amar
E de quem foste nunca te mereceram ter
E eu que soube num instante
Que valia a pena seguir a teu lado
Hoje quero-te aqui e não te tenho
E nessas saudades eu me desdenho
E em dias mais cruéis eu te choro
E por vezes, em lamentos sem fim
Fecho os olhos e tua voz te faz real para mim
E quase sinto o teu tocar
Nesses braços intensos a despertar
E as lágrimas de paixão querem cair
Por toda a realidade que te faz partir.
Sara Ribeiro
Tão lindo é este sentir que me inunda
um sentimento azul da cor dos olhos teus
entretecido em linhas de ternura
num dia em que dissemos adeus
Mas este adeus não é definitivo
porque o sentimento é forte e permanece
o dia virá jubiloso com céu cerúleo
e a lágrima que vive em mim esmorece
lindo e precioso como diamantes
este sentimento minha razão de viver
teus olhos cor do meu mar
indelével amor a crescer
A calma vive em mim
porque não esqueço a cor do teu olhar
nem o sentimento que te nutre a alma
num azul que é feito de amar
Emília Pedreiro
Adio as coisas mutáveis.
Amanhã, vai ver, será diferente.
Minha alma, coisa abstrata,
E quase inexplicável
Dentro de mim se contorce
Inteira e triste
Num cansaço de um mundo
Indiferente e sem sentido.
Somam-se dias...
Há um tempo inacessível.
O corpo estremece
E lúcido vê-se vencido
Como se estivesse a morrer.
Nessa hora, como por instinto,
O humano de mim se desconhece
E se sacode em lagrimas
Até que, cansado, adormece.
Esse pedaço de mim
É só o invólucro da alma!
Lígia Beltrão
Aquele intenso olhar, tão perto e distante
Como ondas do mar arremessando diante
De um rochedo, sua bela e incontida força.
Lamentos ao vento, levados sem que se ouça.
Oceano são as lágrimas que aliviam o peito
Oprimido, singular lembrança e seu efeito.
À noite e seus mistérios o luar as estrelas.
Aquela que foi escolhida descansa nela.
Ela traduz com o seu brilho a lembrança,
Ou quem sabe ainda acredita esperança...
O medo era grande, mas tornou-se realidade.
Triste, palpável onde talvez a grande fragilidade,
Se curve totalmente a vida e aos seus caminhos
Tortuosos, doloridos e a emoção em desalinho.
Mas chega uma aragem fresca que
é só carinho...
Solange Moreira
Feliz recanto encantado de sabedoria a
entender,
Segundo pensou Homero paciência para fazer,
Bem ao pé do Ipê florido onde o olhar marejava,
Soavam longos suspiros, pobre peito soluçava.
Lá o viver é gostoso, laços fortes
destemidos,
Sensatez, é bem precioso, livre de amor bandido,
Na lei da sabedoria uns tem dom outros razão,
Discernimento do tudo implica em ter coração.
Sepulcro dos candelabros a evaporar
tristezas,
As almas que o habitavam reverenciaram certezas,
E assim é o destino outros caminhos virão,
Na cabana dos meus sonhos chaminés fumegarão!
Volto trazendo sorrisos porque aqui fui
feliz,
Sentarei na minha rede, sossego que sempre quis,
Sabedoria de vida é o tempo com fé levar,
E na cabana da sorte viver amar e amar!
Elair Cabral
Dir te ei adeus na estação mais improvável,
bem perto do rio, na confluência de olhares,
acenar te ei na brevidade do gesto,
antes que o vendaval nos tome de assalto.
Sei, sei que sentiremos o frio no rosto
e o ímpeto do vento nos lábios,
pétalas a tombar de desejo. Beijo, leveza,
vontade a abrir desmedidamente.
Quase inadvertidamente, às primeiras chuvas,
o caminho faz-se céu aberto e silhuetas
avançam
num espelho líquido de ilusão, chão de
sobressaltos.
Meu rio de emoção, arrepio, meu outono
deslizante!
Onde está a verdade, o grito, o esplendor?
Beijo a brevidade da chama, a envolvência da
cor!
Na confluência de olhares, na estação mais
improvável,
dir te ei adeus, apenas,
ser te ei ardente e breve, meu amor!
Teresa Almeida
2014 12 06
Colho flores e sorrisos
passeio-me por momentos felizes,
em gorjeios quentes e melodiosos,
num rendado multicolorido.
Sorrisos e perfumados narcisos,
Um ritual primaveril dos sentidos,
um bailado de andorinhas ,
nas acuçenas encantadas.
Colho flores e sorrisos,
rendo-me aos momentos felizes,
acordo num oásis de amor,
onde a vida fervilha em harmonia.
Saliências das montanhas a respirar simpatia.,
luz, complacência em fragrantes sentires.
Colho flores e sorridos,
faço molhos de inefáveis momentos.
Emília Pedreiro
A noite trepidava em
breu involuntário...
As estrelas...
Sim, as estrelas, tímidas,
mal cintilavam,
num amarelo desbotado, travado...
Talvez a pedir um tempo ao respirar
ofegante e podre...
Prenúncio de queda em ignota psiquê...
Agarrada a frágeis promessas,
a crença, dilacerada, sustentava um único
fio!
Sufocava com o açoite do vento
uivante, em horror sem tréguas..
Negros flocos de nuvens carregadas
empurradas a força,
misturadas às lágrimas
projetavam espectros
de sonhos...
O fundo seria a rota...
Não haveria como afundar mais...
O fio...
Melindrosa subida!
O ar há de esperar na saída!
Elaír Cabral
Diante de ti comovo-me
perante a fala dos teus olhos.
As árvores estão cheias de pássaros
e é uma barafunda tremenda
esse acordar estrépito de palavras
o adejar de um fogo de asas
com a capacidade de queimar o mundo.
Desafia-me a poesia no fundo dos lagos
gritava a música os versos cantados e eu aplaudi o fogo
o ponto a virgula o céu azul que coleciono dentro de mim
reluzindo no tamanho justo do poema do teu nome
que escrito não se apaga na memória da minha pele.
Visto-me de horizontes e amanheceres
encosto-me ao tanger nítido dizeres desse coração
a chama do teu amor e ali dispo as aves adormecidas…
pintam-me a boca as acácias rubras iluminadas.
Élia Araújo
2014 12 05
Parto sem hora marcada, sem um beijo teu de
despedida. Desconheço o lugar onde me levará o destino. Não importa que seja
norte, que seja sul. Quero ir com as primeiras chuvas.
Deixei-te dormindo...o teu respirar suave...o pulsar do teu coração ...na minha
mão!
Preciso rumar ao lugar onde pertenço. Um sitio de luz, de sombras e cheiros
brandos.
Por tempos pensei ser feliz contigo. Era o amor, a
nossa casa pintada de azul cercada pelos muros enfeitados de hera.
E o mar ao longe a ribombar uma canção só nossa.
Sei, sim...sei que fui, fomos felizes. Mas...dentro
de mim habitava uma ansiedade crescente. Uma interrogação ...uma voz inaudível«
teu lugar não é aqui»...e então vinham os cheiros como que uma era longínqua a
chamar por mim.
Perdoa-me! Quando acordares do teu sono pacífico(
como são todos os teus sonos e sonhos)...e eu não responder à tua chamada.
Perdoa-me não mais estar aí, para te abraçar na
alvorada.
Reaprenderás a viver sem mim! assim como eu sem ti.
Vou em busca de minha essência.
Chove , chove forte neste momento.; mas meu coração
se encontra pacífico. Minha alma leve.
Estranho ...porque deixo-te para trás meu grande
amor...mas pressentindo que me aguarda um lugar, o meu lugar no mundo.
Estarão pessoas à minha espera? Abraços, sorrisos?
aromas numa cozinha quente e aprazível?! creio que sim! sei que sim.
Desconheço o lugar. Irei seguindo meu instinto.
O apelo é forte, tão forte e certo como a morte.
Perdoa meu amor!
Cuida das flores que agora carpem no jardim! Cuida
de ti.
Emília Pedreiro
Que saudade do Natal
na minha terra...
O frio vinha lá da serra
E nevava todo o dia
No ar havia alegria...
De ti recordo a terra
Do meu encanto
Minha rua minha casa
meu recanto...
Na minha terra amada
Terra que me viu nascer
Terra de gente hospitaleira
À noite junto á lareira
A família se reunia...
Hoje como tudo é diferente
Tão diferente é este dia
Guardo esta linda lembrança
De quando eu era criança...
Maria Tavares
O frio
é de rachar
até à pele
mas é da medula
a sensação
dum transmudar
fio quente
no mais profundo
do que é
da terra
ser.
Numa brisa
de fundo
se agita
a espécie
dom terreno
a ressonância
um espargir
de fala
dum florir
ameno.
Élia Araújo
2014 12 04
Desfolhar
Em silêncio, as horas a consomem.
Logo o tempo entardecerá
e as estrelas rutilantes
haverão de correr os céus.
Ela é só um enigma
diante de si mesma
a projetar-se...
Feito flor, que desabrocha
sem se dar conta.
Mas o tempo, esse, impiedoso,
a desfolha completamente.
Ela cai lenta
e levemente.
É folha despendida.
Ela passa a ter sido. Não é mais.
Fica no tempo “ido”.
É o que passou... É a vida.
Lígia Beltrão
Rede dos sonhos
A noite virou ciranda
O sono me disse adeus
Fui pra rede da varanda
Dei asas aos sonhos meus
Pensei na tarde chuvosa
Que te encontrei na Avenida
Com sua voz amorosa
Trançou fios da minha vida!
Imaginei nosso canto
Em cima de uma colina
Onde não haverá pranto
Eden de alma menina.
Formaremos um jardim
Só com espécies do bem
Raras flores do sem fim
Onde o mal ficará aquém
Uma casa de quimeras
De saber oriental
Pousada das primaveras
De beleza sem igual!
Depois do jardim plantado
Vai precisar de atenções
Pra não ser prejudicado
Por ervas e escorpiões.
Ai, no meio das flores,
Pedimos ao vento ameno
Que leve o cheiro de amores
Pra perfumar o sereno.
A rega será de amor
Como um altar venerado
Levando ao céu multicor
Buquês cheirosos e alados.
Para que todos os lares
Possam se espelhar em nós
Doce maná dos olhares
Melodia em viva voz.
A noite adeus acenou
Noutras terras foi dormir
Saudosa a rede chorou
Buscou forças pra sorrir
O dia veio a raiar
Nas veredas do universo
Espero-te pra sonhar
Em dueto no meu verso!
Elair Cabral
Dançamos bem
Dançamos maravilhosamente bem
Eu e tu também
Não trocamos o passo
do que a vida nos ensinou
E a nossa paixão aprovou.
Nada mais nos separa
Basta estarmos juntos
para viver um momento delicioso
De toda a nossa alegria.
As notas da nosso canção
São fáceis de aprender
Basta serem tocadas
Pelo instrumento
Chamado.... Coração
Tina Gante
2014 12 03
Os Lírios
Eu cuidava do jardim
e plantava aqueles lírios
que nunca nasciam.
E quando brotavam
eram tão mirradinhos
que dava-me dó...
Conversava com eles:
- Como posso admirá-los, colhê-los,
se vocês não florescem?-
Ó enganação desumana!
Fui-me embora e abandonei os lírios. Esqueci-os.
Um dia, quando voltei
ao mesmo jardim
e vi um monte de flores lindas
perguntei à minha mãe:
- Que flores são essas?
Tão lindas!
- São lírios – respondeu-me ela,
entre surpresa e desagrado -, completou:
- Vivo arrancando-os, mas não sei por que
sempre brotam e florescem?!
Olhei meus lírios com emoção.
Eles não me esqueceram!
- Pensei -, batendo forte o coração.
E eu, egoísta, nem lembrava mais deles.
Quanta desconsideração!
Havia perdido a esperança de vê-los florescerem.
Olhei-os e
acariciei-os tomada
de emoção...
Lígia Beltrão
Opostos intermináveis…
Na tua nova morada
Ataste as lembranças
Ao tempo d’esperanças
De forma escarpada
Sem ser desejada!
Foram tantas as emoções
Algumas partilhadas entre nós
Outras ficaram p’ra depois
E as razões?
Já não tínhamos voz!
Voz ensurdecida e rouca
Embargada na garganta
Das emoções loucas
Onde não existe exactidão
Nem razão, nem assimilação!
E feita do nada…
Construímos a estrada
Tecida de dores implacáveis
Em cada madrugada
E opostos intermináveis!
Ilda Ruivo
Pescaria
O dia chegou cantando
Alegre canção de amor
Fui logo me encantando
No dueto fui entrando
Até o sol ganhou mais cor!
Estava pronto o roteiro
De pesca juntei a tralha
Com ares de forasteiro
Para retornar inteiro
Sem as marcas da batalha!
Fui repontando a alegria
Que se fez minha parceira
Na fonte de pescaria
Tudo é festa e melodia
Sentado na ribanceira!
Às vezes pesco pouquinho
Só vale mesmo a beleza
De ficar ali quietinho
No rio que corre mansinho
Contemplando a natureza!
A noite durmo no chão
Estrelas são meu carinho
O sossego é meu colchão
A mata abre rachão
Pra lua mandar beijinho!
Volto pra luta contente
Com a alma renovada
Até pescar novamente
Sarar o corpo e a mente
Pra seguir a caminhada!
Passo a semana feliz
Com minha arte de amar
O sol se faz chafariz
Esquenta enfeita e me diz
Que o importante é sonhar!
Elair Cabral
2014 12 02
Desafiam-me as Palavras
Roça-me o sonho onde nada é
senão corais que morrem sem entender…
estilhaçam-se os cristais de um retorno vazio
porque nos teus olhos não moram mais as pedras raras
nem das tuas mãos sobressai solene o aroma bravio
e fecundo perturbador
do fausto lugar ecos de fogo que me dobravam em
absoluta idolatria.
E na planura entre margens os assombros dividem-se
pela ansiedade
esbatendo-se em meus olhos o ouro da flor anilada
vestida de mar.
Ah esta tristeza que me quer tanto ser
tumultuosos arremessos de morte…
a noite carregada e bafienta me impede de adormecer
naufrago num rio alucinado de discurso obscuro
carrego fria as visões da enxovia um fado austero
duro.
Élia Morais Araújo
Deuses
Onde estão?
Quem são?
Será que existem?
Poeiras do infinito
Em nosso mundo
Memórias de quem fomos
Ou do que somos espírito,
História
Lembrança sombras de nós próprios
Almas
Corpos habitáculos
Viver
Vontade
De praticar o bem.
Tina Gante
Beneplácito
Esta noite, o vento cantou
até nascer a madrugada.
Nos teus braços eu gemia
e o vento levava as horas
lentamente como se quisessem parar.
As estrelas iluminavam a escuridão
e riam-se manhosamente
cúmplices do nosso amor.
As paredes do nosso pequeno
mundo dançavam,
acompanhando o ritmo
dos nossos corpos
que, arqueados, desenhavam
imagens nas paredes vestidas de luz.
De repente vejo o rosto de Deus
a espiar por entre as frestas
dos nossos corações.
Senti-me pecadora...
Mas foi só por um instante.
Pois, Ele nos olhava e abençoava
como se fôssemos noivos
na primeira noite.
Era tudo tão luminoso...
Lígia Beltrão
2014 12 01
Adiante
Os olhos que lacrimejantes
Alcançam horizontes distantes.
O coração pulsante sente recente
O momento doído e perene...
Instante agudo, passagem soluçante.
Somente o agora que passou adiante
A fragilidade de uma alma gritante.
Instabilidade vontade da não hora.
Minuto, segundo, difícil acorda.
Realidade não sonhada e nem esperada.
Coragem despertada...
Solange Moreira
2014 11 30
Cansaço
Nas sombras
Do cansaço,
As folhas mortas
O teu abraço,
A minha coragem…
Coragem…
Que tu não suportas,
Nas noites longas
Que acordas
Cansado
Sempre e só
A Meu lado…
Maria Tavares
A Luz...
Há um raio de luz ao longe
ténue... brilho suave...
resplandecente...
em forma de gente!
És tu meu amor?
Voltaste?
Vais ficar para sempre?
Imensas perguntas...
sem obter respostas...
O meu olhar já pardacento
pelas lágrimas caídas
nas noites mal dormidas
sem serem contidas!
Pergunto novamente:
- Porque não voltas?
Estou à tua espera, sempre!
Esta angústia em mim...
que não se dissipa...
distante de ti...
não sei como sobrevivi!
Alada... avanço
p'ra luz alcançar...
quanto mais avanço
mais falta avançar!
A distância abismal
que existe entre nós
num Mundo Universal
só passível de alcance...
quando Deus quiser!
Ilda Ruivo
À Conquista
Bela
autêntica
é a reza dos pássaros
a balançar nos olhos
em bando
espargindo trinados
vagos
contemplando poentes
verbos a levantar voo
por entre labirintos
retínicos
o apressado Arco-Íris
inventando-se
em felizes incandescências
uma porta que se abre
através do céu
entre asas cintilações.
Élia Araújo

Lascivas glórias...
Deslumbrada em nuvens de sonho
recorto-as em papel de seda colorido
estrelas douradas e prateadas desenho
e n'elas escrevo o meu desejo preferido.
Desnudo-me de certos preconceitos
visto-me de malícia em seda escarlate
indexo em pensamentos rubros beijos
como um prolongamento da mocidade.
Desenho novas formas geométricas
as nuvens mais exóticas e predilectas
palavras que formam versos metódicos
tentando arquitectar quadras poéticas.
Preencho o tempo com idílicas memórias
de pequenos momentos apimentados
dos quais houve lascivas glórias
e que no meu coração estão guardados.
Ilda Ruivo
Bebé perfeito
Foste gerado no amor
Desejado intensamente
O milagre que cresceu em mim
A sensação mais intensa de todas
Acompanhei tua formação
Não te podia tocar ainda, mas mimava-te
Tentei sempre te dar o melhor de mim
Mostrar o amor em que te concebi
As voltas que davas dentro de mim
Os movimentos suaves só te amar
Ou os excitados só brincarmos
Sorria mesmo sem me aperceber
Sorria e sabia-te a sorrir comigo
E esperei dias e noites a fio
Pelo momento de te ver
Abraçar a minha obra de arte
Olhar para ti e ainda mais te amar
Pegar-te em meus braços com cuidado
Deitado no meu peito a dormir
Sentir o teu calor e te proteger
Dar-te meu amor e me perder
E ficarás sempre assim pequenino
Nos meus braços protegido
Por mais que cresces serás sempre assim
O bebé perfeito que nasceu de mim.
Sara Ribeiro
A Mãe que
em mim repousa
Levam-me pela mão
da incandescente iluminação
as rosas de um coração
acendido de mar e fogo
retrato antigo de falas novo.
Acordes uma exaltação do terno íntimo
e confidente ventre pedagogo
composto pelo doce mundo dum peito
eterno instante dos floridos trigais.
Vida aventura de mil anos que arde
estremecido útero pendão da alegria
fosforescem na noite dialetos os sóis
o desvelo da terra na amplidão do dia.
Montes de palavras soam deslumbradas
penduradas no cais do entardecer
um colo é lembrado acolhedor
do amor braços beijos sãos
a sensibilidade das suas
diluída em minhas mãos.
Élia Morais Araújo
Mito
A memória leva-me
para lá dos avermelhados
da grandeza do amar...
sinto a esperança
a faiscar
de sol e asa...
e vou-te encontrar...
teimo no pintar
da chuva miudinha
e no colorido
fértil e confuso.
Um atear desse olhar
que revelas...
e vou ao teu encontro
porque é triste
o instante dos risos sem ti
e eu quero
saber de mim e de ti...
desde que partiste
desaprendi a amar
quero voltar...
quero que voltes...
e todos os mitos
espalhados
se desvendarão
para recomeçar
a chuva que ontem
se revelou na boca
dos versos
do nosso coração.
Élia Morais Araújo.
Nos meus sentidos
Espalhou se nos meus sentidos
Um cheirinho a terra molhada;
E vi rios e riachos… refletidos
Nas pedras rijas da calçada.
Corriam então deprimidos
Na rua branca do nada;
Onde passavam esquecidos
Na tristeza quase ceifada…
Nostalgias da gente madura
Que os tempos viram passar
Tristes na tristeza que perdura…
Esperando os netos na ternura
Deixando a vida secar
E com calma, esperar a sepultura…
Maria Tavares
2014 11 27
Insolente
Vida porque és assim?
Porque me dás tudo a custo
E com facilidade ameaças tirar?
Vida porque te quero amar tanto
E insistes em me desiludir?
Que mal te fizemos nós?
Que te tiramos sem saber?
Porque não pedes de volta conversando?
Porque tens de ser abrupta?
E eu que nunca te pedi nada
Que sempre me contentei com pouco
E os meus que sempre me amaram
Porque padecem eles sem razão?
Porque sorrio um dia ou dois
Se depois me fazes chorar?
Como queres que te respeite
Que te viva intensamente
Se em mim a vida é insolente?
Sara Ribeiro
Dói o tempo que passou.
Dói a lembrança que ficou.
A saudade é a esperança...
Imutável amor, uma ânsia.
No peito notável sentimento.
Herança de todo o momento.
Vida, por quê?
Emoção que jorra e transborda
Na alma, molha a face e acorda.
No mais profundo ser a sensação
É humano ser esta explosão...
Vida, por quê?!
Solange Moreira
Vento gélido cortante
Chuva forte em cascata
Um lugar contagiante
Orlado por verdejante mata.
Procuro a serenidade
Em recantos épicos
Mergulho com humildade
Nos meus voos poéticos.
Ao longe vislumbro o mar
D’onde partiram navegantes
Uma outra forma de amar
N’outros mares distantes.
Aquieto o barulho exterior
Que pretende tirar-me o sossego
Refugio-me no meu interior
E na inspiração a que me apego.
Ilda Ruivo
Muito feliz em ver meus poemas neste "jardim", entre tantos outros, maravilhosos, que aqui enfeitam cada pedacinho desse espaço. Obrigada José Sepulveda, pelo carinho de sempre. Beijos em todos os poetas que cá estão!
ResponderEliminarMuito feliz em ver meus poemas neste "jardim", entre tantos outros, maravilhosos, que aqui enfeitam cada pedacinho desse espaço. Obrigada José Sepulveda, pelo carinho de sempre. Beijos em todos os poetas que cá estão!
ResponderEliminarLígia Beltrão